A Associação de Docentes da Unicamp (ADunicamp) publica a cada três meses o seu Boletim, ora abordando um único assunto, como por exemplo o de Outubro/2020, que apresentou o Balanço da Gestão 2018-2020, ora temas gerais.
O ano de 2020 foi marcado pela pandemia provocada pelo novo Coronavírus que ceifou milhares de vidas. Este fato, por si só estarrecedor, foi e vem sendo acompanhado por um galopante desmonte das Instituições, falta de investimentos em saúde, educação, cultura e arte, além do desrespeito à autonomia universitária, à democracia e ao servidor público. A economia está muito longe da estabilidade, o que sem dúvida terá grande impacto em todas as camadas sociais, particularmente sobre as pessoas mais vulneráveis.
O cenário político nacional foi transformado em um verdadeiro caos, patrocinado principalmente pelo extremismo antidemocrático e negacionista do Governo Federal. A economia, baseada num projeto neoliberal extremado e ultrapassado, desce ladeira abaixo, com desemprego, desrespeito às Instituições Públicas, reforma previdenciária e incentivo às privatizações. Corrupção e destruição do meio ambiente compõem o pano de fundo do cenário da pandemia, coroado pela total incapacidade do governo de adotar uma política de saúde efetiva e que contemple toda a população.
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Esse quadro caótico tem mobilizado várias categorias e personalidades públicas, que já pedem abertamente o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Entre as causas apontadas para o impeachment está a incapacidade e os equívocos do governo no enfrentamento à pandemia. O Brasil é bastante dependente da importação de insumos farmacêuticos, e esse é caso das vacinas aprovadas até o momento, mas atitudes do Governo Federal e de seus representantes acabaram manchando a imagem do Brasil no exterior e causaram impactos negativos nas negociações pelos imunizantes. Com mais de 210 mil mortes no Brasil, a falta de incentivo ao uso de máscaras e de isolamento social, o tratamento jocoso e a falta de uma campanha séria de conscientização do uso de vacinas, e indefinição sobre o auxílio emergencial têm suscitado movimentos sociais, com destaque para a carreata pró-impeachment ocorrida em 23 de janeiro. Essa manifestação ocorreu em todo o Brasil com grande adesão de vários segmentos políticos do país.
Apesar de todas as atrocidades e desrespeito contínuo aos preceitos constitucionais, o governo Bolsonaro continua imune aos inúmeros pedidos de impeachment já protocolados no Congresso Nacional. Essa imunidade tem sido assegurada pelos inúmeros interesses e alianças políticas do governo, que impedem a colocação em pauta dos processos de impeachment.
MUDANÇA MUNDIAL
O presidente Bolsonaro, bastante próximo ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump, sempre se manifestou sobre questões relativas à política internacional e meio ambiente, de maneira muito semelhante à do mandatário norte-americano. A vitória do democrata Joe Biden nas eleições, com a derrota do candidato à reeleição Donald Trump, foi muito contestada pelo derrotado sob alegação de “fraude eleitoral”. Esse posicionamento gerou eco no governo de Bolsonaro, que não só concordou, como também insinuou que aqui no Brasil houve fraude nas últimas eleições presidência. Ao lançar suspeitas sobre o nosso sistema de votação, Bolsonaro foi duramente combatido pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Enquanto os líderes de países do G20 cumprimentaram Biden logo após o resultado das eleições, Bolsonaro apenas se manifestou um mês depois da confirmação da vitória. Esse comportamento, associado ao descaso de Bolsonaro com o meio ambiente, gerou uma inquietação sobre como ficará a relação Brasil-Estados Unidos na gestão de Biden.
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O governo democrata está revertendo uma série de medidas tomadas por Trump, incluindo aí o retorno dos EUA ao Acordo de Paris. A menção de Biden à destruição da Amazônia, no debate presidencial de setembro de 2020, reforça a preocupação desse líder com questões ambientais, o que, claramente, não é preocupação do nosso governo. Na mídia, os especialistas são contidos nas análises e opiniões sobre o futuro das relações entre os dois países.
O Brasil, certamente, não deve ser prioridade da nova gestão norte-americana e essa é uma oportunidade para Bolsonaro repensar a política externa e evitar um isolamento ainda maior do Brasil no cenário internacional, inclusive reaproximando-se dos países do Mercosul, e evitando críticas contundentes à China.
A REALIDADE PRESENTE
Na elaboração desse Boletim, que é o primeiro do ano, gostaríamos muito de escrever sobre fatos passados como uma triste lembrança. Um tempo em que a vacina foi fato político. Infelizmente, sentiremos ainda por muito tempo os efeitos de ações governamentais perversas, como a perfusão nefasta do chorume. Entretanto, seremos resistência e defenderemos os nossos direitos, a democracia, um ensino gratuito de qualidade, o SUS e a cidadania. Esse cenário nos levou a compor um Boletim com a contribuição de vários colegas e especialistas, que gentilmente fizeram uma análise dos fatos e, quando possível, delinearam uma perspectiva.
Nossos agradecimentos aos professores/as e colaboradores/as: Guilherme Santos Mello (Instituto de Economia – Unicamp), João Ernesto de Carvalho (Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Unicamp), Lenir Santos (Faculdade de Ciências Médicas – Unicamp), Márcia Bandini (Faculdade de Ciências Médicas – Unicamp), Paulo Centoducatte (Instituto de Computação – Unicamp e Diretor da ADunicamp), Wagner Romão (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Unicamp), Fernando Piva (Comunicação – ADunicamp), Paulo San Martin (Comunicação – ADunicamp), Paula Vianna (Comunicação – ADunicamp) e Júnior Khaled Moreira (Comunicação – ADunicamp).
O nosso compromisso é com os Docentes, a Universidade Pública e a Democracia!
Profa. Dra. Silvia Gatti – Presidenta da ADunicamp e
Profa. Dra. Wanda Almeida – FCF/Unicamp e Diretora de Imprensa da ADunicamp
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