O CR (Conselho de Representantes) da ADunicamp, reunido em plataforma virtual nesta quinta-feira, 24 de junho de 2021, acompanhou uma apresentação detalhada das propostas e encaminhamentos já realizados pelo grupo de trabalho que coordena a campanha “Unicamp pela democracia: pedido de revogação do título Doutor Honoris causa concedido ao coronel Jarbas Passarinho”.
A apresentação, feita pelo professor Caio Navarro de Toledo (IFCH), teve o objetivo também de pedir o apoio de integrantes do Conselho para a divulgação do projeto em suas unidades, antes do encaminhamento final da proposta para votação no Consu (Conselho Universitário), em data ainda a ser definida.
“Essa campanha se justifica a partir da experiência negativa de 2014, quando uma proposta de revogação deixou de ser aprovada no Consu por apenas um voto. O Consu expressa sentimentos e convicções de parte da comunidade acadêmica e, naquela reunião, 10 docentes se abstiveram e 10 foram contra a revogação. Isso revela que parte da comunidade acadêmica não tem convicções democráticas firmes. Quem tem uma visão clara e crítica do que foi a ditadura não teria dúvidas em aprovar a proposta. Daí a necessidade de discutir, apresentar documentos e argumentar”, ponderou o professor.
As mobilizações e debates têm o objetivo de convencer setores da universidade que a honraria, na verdade, não é uma homenagem apenas à figura do coronel, mas a tudo que a ditadura representou. “Não é uma questão pessoal, é uma questão política e precisa ser revogada. O nosso esforço é pra levar ao Consu depoimentos, documentos, moções para que, desta vez, a nossa proposta seja vitoriosa”.
Para informar e alimentar o debate, o grupo de trabalho que conduz a campanha já reuniu um farto conjunto de documentos e depoimentos sobre a ditadura e sobre o importante papel que Jarbas Passarinho teve em todo o período, e também na repressão, morte e desaparecimento de adversários políticos. Esse material, que continua em permanente atualização, está disponibilizado em página da campanha no site da ADunicamp.
O professor Caio apontou que o próprio regimento da Unicamp deixa claro que só devem ser homenageadas pessoas públicas que tenham uma contribuição acadêmica, científica, artística e cultural. “Como vemos, todos homenageados estão dentro destes critérios. E Jarbas Passarinho não tem nenhuma qualificação para ser homenageado”, avaliou.
APOIO DA ADUNICAMP
O professor Caio relatou o importante papel da ADunicamp no apoio e participação na campanha que foi deflagrada no início deste ano a partir de uma carta com o pedido de revogação do título, hoje já assinada por 424 signatários dos mais diversos segmentos da sociedade.
“Tão logo a carta começou a circular, a professora Sílvia Gatti (IB), como presidente da ADunicamp, de imediato se posicionou. E a levou, já em janeiro, na reunião da direção, que fez a sugestão de criar o grupo de trabalho reunindo entidades representativas da Unicamp, além da própria ADunicamp, a APG, o STU e o DCE”, disse. E foi a partir disso que a campanha se formalizou e ganhou força. Há duas semanas foi lançado um abaixo-assinado, que também está aberto para adesões no portal da ADunicamp.
A professora Sílvia, que presidiu a reunião do CR, lembrou que um dos argumentos utilizados em 2014 para manter a homenagem seria uma suposta mancha à memória do reitor Zeferino Vaz, que assinou a concessão. “Mas isso não tem nada a ver. Aquele momento era uma outra situação. Mas agora não é só a revogação do título, mas o que ele representa para o momento político atual”, afirmou ela.
Após a apresentação, integrantes do CR fizeram várias sugestões e propostas de ação que serão levadas para discussão no grupo de trabalho. Entre elas, a realização de palestras e debates com a comunidade universitária e estratégias de apresentação da proposta para ampliar o apoio em diferentes segmentos.
MOÇÕES
O CR aprovou também, ao final da reunião, três moções apresentadas por integrantes do conselho. São elas:
1) A “Justiça Militar” absolveu da acusação de estupro dois PMs que, armados e em serviço, participaram do estupro de uma jovem dentro de uma viatura policial, afirmando que a vítima poderia ter resistido mas não o fez e que portanto teria havido sexo consensual. Um dos policiais foi absolvido de qualquer acusação e o segundo condenado por “libidinagem”, provavelmente por ter sujado a até então impoluta viatura com sêmen. Mais uma decisão repugnante da Justiça Militar, que não merece ostentar o nome de “Justiça”, por ser sempre corporativista e neste caso particular misógina e machista.
Toda nossa solidariedade à vítima.
2) O ministro Salles renunciou. Seu sucessor, Joaquim Álvaro Pereira Leite estava no comando da Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais e durante 23 anos foi conselheiro da Sociedade Rural Brasileira. Ele integra uma família de fazendeiros de café em São Paulo que disputa um pedaço da Terra Indígena do Jaraguá, nos municípios de São Paulo e Osasco.
Prisão para Salles e fora o novo ministro, farinha do mesmo saco.
3) A pandemia continua a todo vapor e é a razão de mais de 2.000 mortos por dia. Fora o genocida Bolsonaro. Impeachment já.
Simone Baddo
Quem apoiou a ditadura e ocupou cargo nela, contribuiu para piorar este país. Não pode, de forma alguma, ser homenageado.