Especial VII Jornada de Agroecologia da Bahia: movimentos ampliam o debate da questão ambiental nas periferias urbanas


Lideranças de movimentos sociais que participaram da VII Jornada de Agroecologia da Bahia fizeram relatos de ações e reafirmaram a importância de ampliar o debate sobre questões socioambientais nas periferias de centros urbanos, onde essas questões raramente são tratadas.

O jornalista Davi Amorim, do Movimento Nacional de Catadores e Marco Antônio Dallama, assessor de Meio Ambiente da CUT de São Paulo, integrantes da Comissão Provisória da direção nacional do Fórum Popular da Natureza, avaliam que o principal papel da organização neste momento é exatamente o de levar a discussão das questões socioambientais mais emergentes e, principalmente, dos impactos causados por elas nas comunidades mais precarizadas da sociedade.

O Núcleo do Fórum em São Paulo, relataram eles, já tem levado esse debate às bases de sindicatos e organizações de diversas categorias, como é caso dos catadores e também dos motoboys entregadores. Liderança dos motoboys paulistanos, Paulo Gallo, que também esteve presente na VII Jornada, a convite do Fórum, afirmou que só agora essas questões começam a ser discutidas em setores de sua categoria e em outros movimentos das periferias paulistanas.

“Estar aqui, acompanhar essas lutas, é voltar para nossas origens. Meus pais, como os pais e avós de muitos entregadores e moradores de nossa periferia, saíram daqui, das áreas rurais brasileiras, e nunca conseguiram voltar, por mais que quisessem”, diz Gallo.

Para ele, o desmonte do ambiente e da natureza prejudicam duramente as populações das periferias. “Nossos pais saíram daqui e foram para uma vida dura e um trabalho pesado nas cidades. E acho que tem muita coisa dando errado nas cidades porque nós estamos desconectados da nossa terra, nossas origens e nossa história. E quando você perde essa conecção, temos estudos que mostram isso, você fica mais suscetível a ser um escravo. Então as nossas lutas na metrópole têm que voltar a ver isso”, defende.

Gallo lembrou que as populações das periferias são as mais duramente afetadas pelos impactos ambientais que a humanidade enfrenta hoje. “Só que ainda não existe uma consciência disso. A consciência de que as comunidades não só têm que fazer a sua parte, mas principalmente cobrar ações e políticas coerentes das autoridades. A educação e a mobilização são essenciais”, argumenta.

O movimento dos catadores, relatou Fábio, tem avançando significativamente no debate socioambiental e já começa a ter um papel pedagógico importante junto a algumas comunidades. “Eles sabem o que pode ser reciclado ou não. A maioria das pessoas acredita, por exemplo, que copinhos plástico, canudinhos e outras coisas do tipo podem ser recicladas. Os catadores, que sabem disso, procuram orientar as comunidades que já separam o lixo. E orientam para que utilizem o menos possível esses produtos. Como já lida com essas questões no dia a dia, é uma categoria muito receptiva ao debate socioambiental”, afirmou.

Na avaliação de Fábio, que já trabalha há 18 anos com os catadores, eles são “excelentes educadores ambientais” e sabem mais sobre a reciclagem do que muitos gestores públicos.  “Eles movimentam a cadeia produtiva da reciclagem e podem mostrar que temos algumas soluções práticas e que não é preciso produzir tanto plástico”.

GALERIA

Fotos: Arquivo/ADunicamp

 

Liderança dos motoboys entregadores da capital paulista, Paulo Gallo participou da VII Jornada…

 

… e falou para os participantes sobre sua experiência em São Paulo e sobre a importância do encontro na Bahia

 

Davi Amorim, jornalista e integrante do Movimento Nacional de Catadores e do Fórum Popular da Natureza

 

Marco Antônio Dallama (camiseta vermelha), assessor de Meio Ambiente da CUT de São Paulo e também do Fórum Popular da Natureza

 

Placas espalhados por Salinas indicaram as rotas para o acesso ao Quilombo Conceição

 

Movimento dos Pequenos Agricultores levou lideranças de várias regiões do país para a VII Jornada

 

Dezenas de encontros para troca de informações entre centenas de lideranças e militâncias do país ocorreram durante a VII Jornada

 

SÉRIE DE MATÉRIAS

Esta é a terceira matéria de uma série produzida pela ADunicamp, que esteve presente na VII Jornada de Agroecologia da Bahia. A primeira foi sobre a participação de centenas de lideranças de movimentos sociais, que discutiram propostas, rumos e ações para fortalecer a solidariedade e a mobilização conjunta das lutas dos movimentos, povos e comunidades das diferentes regiões do país (acesse aqui para ler).

A segunda matéria abordou a importância da Teia dos Povos, organizadora da VII jornada da Agroecologia da Bahia. O texto mostra, também,  a participação do Fórum Popular da Natureza, que nasceu com forte ancoragem nos movimentos sociais urbanos e, ao lado da Teia, tem ampliado debates e ações nas cidades sobre as questões ambientais (leia neste link).


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