Em evento comemorativo aos 35 anos da Autonomia Universitária e aos seus 32 anos de fundação, o Fórum das Seis reafirma compromisso em defesa da Educação Pública e, principalmente, das Universidades Estaduais, ameaçadas pelo Governo Estadual.
Reunidos no auditório da ADunicamp, em 25 e 26 de agosto de 2023, para comemorar os 35 anos da Autonomia Universitária e os 32 anos da criação do Fórum das Seis, representantes das entidades que compõem o Fórum relataram as importantes conquistas obtidas nestas mais de três décadas graças à unidade de ações e mobilizações conjuntas de docentes, estudantes e do funcionalismo técnico-administrativo das Universidades Paulistas e do Centro Paula Souza.
E apontaram também a urgência de ampliar ações junto à comunidade acadêmica e à sociedade em geral em defesa da Universidade Pública e gratuita, fortemente ameaçada hoje pelo governo paulista. Em Plenária Ampliada, realizada no dia 26, foram discutidas e apresentadas várias propostas de ações e mobilizações para efetivar esse objetivo.
A presidenta da ADunicamp, professora Sílvia Gatti, que coordenou a Mesa de Abertura, afirmou que o propósito do encontro foi “resgatar a história da conquista da Autonomia Universitária” e das lutas e conquistas do Fórum das Seis. “Temos, sempre, que deixar registrada a participação de docentes, trabalhadores e trabalhadoras e de estudantes nas lutas e avanços pelo ensino de qualidade, pela ciência e tecnologia e para que tudo reverta em benefícios que realmente atinjam nossa população, especialmente as camadas mais vulneráveis”, avaliou.
A professora Sílvia lembrou que o Fórum das Seis, iniciado com a união de seis entidades representativas, mas que hoje já reúne 11, transformou-se em um modelo de organização sindical, tido como exemplo dentro e fora do país.
A coordenadora do Fórum das Seis e presidenta da Adusp, professora Michele Schultz, destacou que a comemoração das duas datas “já vinha sendo gestada há bastante tempo”, desde que ela assumiu a coordenação da organização. “Sempre falamos muito da necessidade do resgate da história do Fórum. Um resgate que tem vários objetivos. E a consolidação da memória é extremamente importante neste momento, até porque temos que combater o movimento antissindical que se dissemina dentro e fora da universidade. E temos que resgatar a história do Fórum e da Autonomia inclusive para novos docentes e estudantes que estão chegando agora.”
O Fórum das Seis é composto hoje pela ADunicamp, Adunesp, Adusp, STU, Sinteps, Sintunesp, Sintusp, DCE da Unicamp, DCE-Livre da USP, DCE das Fatex e Representação Estudantil da Unesp.
LUTAS E CONQUISTAS
Na segunda mesa do encontro, representantes de sete entidades que integram o Fórum das Seis, fizeram relatos detalhados e emocionados das grandes mobilizações e greves históricas que levaram à Autonomia Universitária e às muitas conquistas em defesa de direitos, salários dignos e do ensino público e de qualidade nas Universidades Paulistas. Em muitas ocasiões, as mobilizações e greves enfrentaram dura repressão policial.
Foram lembradas também as ameaças recentes pelas quais passam as universidades e o conjunto da educação pública, em particular no Estado de São Paulo. Inclusive as ações já claramente privatistas em curso, como as terceirizações, falta de concursos e contratações e cortes de recursos. Diante desse quadro, foi reiterada a importância de fortalecer o Fórum das Seis e a unidade sindical, ampliando o diálogo com a comunidade acadêmica e o conjunto da sociedade.
Falaram, em nome de suas entidades: Paulo Centoducatte (ADunicamp), Magno de Carvalho Costa (Sintusp), João Zanetic (Adusp), José Luís Pio (STU), João da Costa Chaves Jr. (Adunesp), João Carlos Camargo de Oliveira (Sintunesp), Denise Rykala (Sinteps).
FÓRUM DAS SEIS VAI AMPLIAR AÇÕES COM COMUNIDADE ACADÊMICA E COM SOCIEDADE EM DEFESA DA UNIVERSIDADE
As questões da memória, do resgate da história e dos novos desafios que as entidades representativas das Universidades Paulistas devem enfrentar a partir de agora, apontadas por dezenas de dirigentes nas comemorações dos 35 anos da Autonomia Universitária e 32 anos da criação do Fórum das Seis, foram dissecadas e transformadas em propostas concretas durante a Plenária Ampliada que ocorreu em 26 de agosto.
Os trabalhos do dia, coordenados pela presidenta do Fórum das Seis, professora Michele Schultz (Adusp), foram iniciados com um balanço feito por dirigentes de entidades sobre os problemas e desafios enfrentados hoje pela organização.
Os ataques mais graves, articulados dentro do próprio Governo do Estado, estão relacionados à privatização das universidades ou de amplos setores delas e dos órgãos públicos de pesquisa. Privatização já em curso a partir de terceirização de serviços e milhares de convênios com a iniciativa privada, entre outras ações.
A estratégia de privatização é precedida sempre pela retirada de recursos e pelo desmonte de setores importantes das universidades e institutos, o que já coloca hoje unidades em risco de fechamento, até por falta de reposição do corpo docente. Uma estratégia precedida também por ataques orquestrados contra as universidades e institutos, assim como ao conjunto do serviço público.
AMPLA MISSÃO
Diante desse quadro em curso, o Fórum das Seis passa a ter uma missão ampla de reforçar a articulação entre as entidades representativas e ampliar o diálogo com a comunidade acadêmica e com o conjunto da sociedade. Tanto para apontar os riscos em curso, como para mostrar a importância da universidade pública e gratuita para os mais diversos segmentos socioeconômicos do país.
O Fórum das Seis, lembraram os dirigentes, une as diferentes entidades representativas das Universidades Paulistas e do Centro Paula Souza, mas não interfere na autonomia e nas reivindicações específicas delas. Assim, consegue criar uma unidade única de ações conjuntas. É isso que permitiu, ao longo das décadas, a inúmeras conquistas obtidas.
Mas, neste momento, segundo os/as dirigentes, as lutas comuns em defesa da Universidade Pública ganham maior importância. Daí a necessidade de avanços no modelo de ação do Fórum das Seis. Com esse objetivo, durante o encontro, foram criados seis grupos de trabalho que se reuniram ao longo de toda a tarde para discutir e apresentar propostas de temas e ações a serem incorporadas pela organização.
Os seis temas propostos para o debate nos grupos foram os seguintes: Campanha Salarial e Orçamento da Universidade, Aproximação da Base, Sindicalismo, Universidade Pública, Autonomia Universitária, Estudantes e Movimentos Estudantis.
NOVAS PROPOSTAS
Na Plenária Final, integrantes dos grupos apresentaram as propostas tanto de temas quanto de ações a serem levados pelo Fórum das Seis. No caso dos temas, a missão do Fórum é a de produzir materiais a serem impressos ou disponibilizados online e também a de promover encontros e seminários para debate-los com a comunidade acadêmica e, quando for o caso, também além dos muros da universidade.
As propostas de temas foram amplas e variadas, desde a questão dos impactos da Reforma Tributária no orçamento das Universidades Paulistas, até o papel das universidades, da pesquisa e do serviço público para o conjunto da sociedade e do desenvolvimento socioeconômico do país.
A importância de discutir novas formas de ação sindical, nestes tempos de uberização de serviços e de ataques ao sindicalismo, assim como a necessidade do Fórum das Seis passar a se relacionar mais diretamente com suas bases, foram propostos por vários dos Grupos de Trabalho. Segundo eles, o Fórum já tem e pode ampliar ainda mais o papel de discutir temas essenciais, e os específicos, de cada categoria.
UMA LONGA LUTA E MUITAS CONQUISTAS
Durante o primeiro dia do encontro, docentes e representantes do corpo-técnico administrativo, todos/as com longa história de participação no Fórum das Seis, fizeram relatos de alguns momentos essenciais e marcantes da organização. E evidenciaram a importância do Fórum das Seis nas conquistas fundamentais das Universidades Paulistas. Os relatos foram feitos de forma presencial, remota e também por vídeos anteriormente gravados. Participaram:
Américo Kerr (Adusp), Sueli Guadelupe de Lima Mendonça (Adunesp), Luís Carlos de Freitas Melo (Sintunesp), Neli Wada (Sintusp), Adolpho Hengeltraub (ADunicamp), Antônio Luiz de Andrade (Adunesp), Helena Costa Lopes de Freitas (primeira presidenta da ADunicamp), Claudionor Brandão (Sintusp), Maria Celeste Mendonça (Sinteps), Rodrigo Ricupero (Adusp), José Vitório Zago (ADunicamp), Ceśar Minto (Adusp), Luís Carlos de Almeida (ADunicamp), Milton Vieira do Prado Jr. (Adunesp), Lucia Helena Lodi (Adunesp), Heloísa Borsari (Adusp), Marco Brinatti (Adusp), Adriana Tufaile (Adusp), José Roberto Zan (ADunicamp), Marcos Magalhães (Adusp), Otaviano Helene (Adusp).
HOMENAGENS
Ainda no primeiro dia do evento, foram apresentados vídeos com homenagens póstumas a quatro ex-dirigentes de entidades de suas categorias e que tiveram ações importantes no Fórum das Seis: Marcílio Ventura, diretor do STU em várias gestões, a partir da gestão 2002/2005; Judith Klotzel, primeira presidenta da Adusp, sendo eleita para o mandato entre os anos 1985/1987; Edmundo Fernandes Dias (foto), diretor da ADunicamp em várias gestões; e Salvador dos Santos Filho (diretor do Sinteps em várias gestões, a partir de 1994).
OPINIÃO: Manifesto pelas línguas na Unicamp
O ensino da língua italiana na Unicamp muito provavelmente irá se encerrar com a minha aposentadoria. Falo portanto na condição de um animal em extinção como as ariranhas e as jacutingas. Provavelmente não farei falta alguma diante das escolhas que esta instituição tem feito lamentavelmente por comissão ou por omissão no âmbito das políticas linguísticas (ou da falta delas). A situação da área é crítica e é a seguinte: minha colega se aposentou há quatro anos e não foi feito concurso para sua vaga.
Entretanto, o risco de extinção não é privilégio do italiano. Em situação análoga se encontra a área de espanhol. O CEL tem déficit crônico na contratação de professores em TODAS as áreas. Paradoxalmente, é notório o interesse da comunidade de alunos e professores da Unicamp pelas línguas simplesmente porque a ciência e a transmissão do conhecimento dependem delas.
Um exemplo desse interesse por línguas: propusemos através do nosso sindicato (a ADunicamp) a abertura de cursos de italiano para professores associados. No princípio do ano, oferecemos inicialmente 15 vagas; como houve muita procura, tivemos que dobrar a oferta, abrindo duas turmas. Neste semestre a demanda dobrou e vamos oferecer 4 turmas de 60 alunos, que são professores desta universidade, provenientes de várias áreas. Na condição de professora do CEL, decidi aceitar neste semestre TODOS os alunos que procuraram pelos cursos de italiano no Centro de Ensino de Línguas (CEL). Quem sabe assim a demanda por línguas nesta universidade se torne visível.
Portanto, atualmente tenho 173 alunos de graduação inscritos em 5 turmas nos turnos diurno e noturno; as aulas têm sido ministradas no CB – duas delas com 71 e 52 alunos; além desses alunos atendo a uma turma de 22 professores da rede pública na Extensão. Se existe por parte da comunidade um interesse concreto por outras línguas que não apenas o inglês, por que esse interesse não se traduz em política linguística? Por que a demanda por um ensino plurilíngue é invisibilizada?
Eu me cansei de negar pedidos de matrículas e ser cúmplice de uma conjuntura que trata com descaso os alunos – nosso maior patrimônio – e o ensino de línguas. Ao longo desses anos, para mim é sempre uma enorme frustração recusar tantos alunos, inclusive – e sobretudo – aqueles que fazem uma escolha não compulsória de estudar uma língua “inútil” como é o italiano. Normalmente são os que têm melhores resultados, não só do ponto de vista acadêmico.
Eu acredito realmente que quando as pessoas aprendem sobre outras línguas e culturas se tornam melhores. Não defendo portanto apenas o italiano, embora a italofonia seja sem dúvida um amplo e maravilhoso campo para experiências de alteridade. A comunidade universitária precisaria se solidarizar no sentido de manter vivo e ativo o principal instrumento de transmissão de conhecimento.
A internacionalização e a ciência não se fazem apenas com o inglês. Somos um país, um continente, um mundo multiétnico nos quais TODAS as línguas são igualmente importantes. No caso do italiano, justamente o Estado mais rico economicamente do País e que se orgulha de ter 25% da população de origem italiana, não defende nem promove essa parte tão expressiva do seu patrimônio linguístico e cultural.
É um enorme equívoco histórico achar que o mundo caminha para o monolinguismo, mesmo se nos ativermos apenas no campo científico e tecnológico.Mesmo a tão alardeada internacionalização é plurilíngue. Imaginem que as comunidades hispanófona, italófona e lusófona reúnem cerca de um bilhão de pessoas (aproximadamente 250 milhões de falantes de italiano, 258 milhões de português, 472 milhões de espanhol), que produzem cultura e fazem ciência! Daí a necessidade de defender “i nostri volgari” , como aliás fez uma das figuras mais proeminentes do Renascimento, Leon Battista Alberti, que era arquiteto, matemático, criptógrafo, linguista, filósofo, musicólogo e tradutor de importantes obras científicas do latim para o “vulgar”, o italiano de sua época.
Internamente não há perspectiva de uma política voltada de fato para uma educação plurilingue e para plurilinguismo embora esse seja um importante tema de pesquisa nesta universidade, como no resto do mundo. Infelizmente não há uma AÇÃO pelo plurilinguismo que não fique ou no campo da teoria ou da precarização e da comercialização do ensino de línguas. Quando julgam ser necessário cortar algo para atender a um certo “mercado” (com uma visão distorcida do que é o mercado, inclusive), as primeiras a serem eliminadas são as humanidades e as línguas. Vejo com perplexidade como não há uma insurgência em defesa das nossas línguas, inclusive as indígenas, que compõem a nossa comunidade acadêmica e que, portanto, não apenas poderíamos como deveríamos também aprender e ensinar.
Por Profa. Regina Celia da Silva (CEL/Unicamp)
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