Carta Aberta de apoio ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República Senhor Luiz Inácio Lula da Silva e ao Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Mauro Vieira


O governo da África do Sul apresentou, em 29 de dezembro passado, uma petição à Corte Internacional de Justiça da ONU, em Haia, órgão com 15 juízes que julga disputas entre Estados, com o apoio de 67 países, inclusive o Brasil. A petição acusa o Estado de Israel de descumprir a Convenção de Prevenção e Punição do Genocídio de 1951.

No dia 10 de janeiro, numa nota do Ministério das Relações Exteriores, o Presidente da República relatou os esforços e ações que seu governo tem feito em inúmeros fóruns, em prol do cessar fogo, da libertação dos reféns e da proteção da população civil em Gaza. Destacou ainda a atuação incansável do Brasil no exercício da presidência do Conselho de Segurança para promover uma solução diplomática para o conflito em Gaza.

À luz da continuidade de flagrantes violações ao direito internacional humanitário em Gaza , o presidente manifestou seu apoio à iniciativa da África do Sul de acionar a Corte Internacional de Justiça,  em Haia,  para que determine que Israel cesse imediatamente todos os atos e medidas que possam constituir genocídio ou crimes relacionados nos termos da Convenção de Genocídio.

A decisão do Presidente suscitou críticas como a alegação de uma suposta falta de coerência da diplomacia brasileira ao apoiar a ida à Corte, que foi considerada em discordância com a política externa de equilíbrio entre Israel e a Palestina, e teria por objetivo a deslegitimação de  Israel quebrando a irmandade(sic) com o povo judeu, reforçando o antissemitismo.

Não há incoerência alguma na diplomacia brasileira. Essas críticas ignoram que o Estado brasileiro tem se guiado nas relações internacionais, pela primazia do respeito aos direitos humanos, conforme o artigo 4º da Constituição de 1988. A política externa brasileira sob a constitucionalidade democrática sempre respeitou a primazia das normas internacionais e das decisões de órgãos multilaterais.

Qualquer referência à crise em Gaza deve ser examinada, como asseverou recentemente o Secretário-Geral da ONU, no contexto da história das relações entre Israel e o povo palestino. A manutenção da equidistância nas relações do Brasil advém da situação das duas partes do conflito sob o ângulo das obrigações do Brasil em face da legislação internacional: o Estado de Israel , como potência ocupante e a Palestina ocupada  submetida  a anos de apartheid, 56 anos de ocupação militar e a 16 anos de bloqueio em Gaza.

Muitas críticas alegam que o processo na Corte deixa de lado o exame dos ataques do Hamas em 7 de outubro. Porém o Hamas não pode ser parte em um processo perante a Corte Internacional de Justiça, que examina apenas disputas entre Estados. A Corte examinará a defesa de Israel que culpa o Hamas pelas mortes de civis e não pela sua própria conduta. Em qualquer hipótese, o órgão judicial que pode penalizar os crimes de guerra do Hamas é o Tribunal Penal Internacional (que investiga e processa indivíduos), mas Israel impediu o procurador do Tribunal entrar em Gaza diante do risco que aquele pudesse investigar e processar autoridades oficiais de Israel.

A acusação de reforçar o antissemitismo faz parte da campanha de  instrumentalização política do termo  ao considerar qualquer crítica ao Estado de Israel e seu governo como antissemita . O antissemitismo é um flagelo perigoso e deve ser combatido vigorosamente. Mas não é ser antissemita condenar o apartheid e  o  desrespeito sistemático  por  Israel  das decisões dos órgaõs da ONU e de leis internacionais humanitárias e de direitos humanos, incluindo a não prevenção de genocídio. Conforme observada pela Declaração de Jerusalém e pelo The Nexus Document sobre antissemitismo, equiparar falsamente antissemitismo com crítica a Israel prejudica a importante luta conta o antissemitismo.

Lamentavelmente todas essas críticas hipócritas à decisão do governo em cartas jactanciosas , editoriais, avalanche de notas na mídia social não levam em conta a natureza, âmbito e extensão dos ataques militares de Israel a Gaza, com um bombardeio contínuo durante 100  dias em uma das regiões mais densamente povoadas do mundo, forçando a evacuação de 1,9 milhão de pessoas (85% da população de Gaza) de suas casas.,  deslocadas para áreas cada vez mais exíguas, sem abrigo adequado, onde continuam a ser bombardeadas, mortas, feridas e privadas de necessidades básicas para sobrevivência. Os ataques já mataram mais de 23.843 palestinos. Gaza se transformou num cemitério de mais de 10.000 crianças, com milhares de feridos com amputações sem anestesia, desaparecidos, supostamente enterrados sob os escombros. Foram mortos 82 jornalistas, muitos com suas famílias extensas. 152 funcionários da ONU foram mortos, mais do que em qualquer outro conflito nos 78 anos de história da organização

Israel destruiu vastas áreas de Gaza, incluindo bairros inteiros, danificou ou destruiu mais de 355 mil casas palestinas, terras agrícolas, padarias, escolas, quatro universidades, empresas, mesquitas e locais de culto, cemitérios, sítios culturais e arqueológicos, serviços municipais e instalações de água e saneamento e redes de eletricidade , sistema médico e de saúde palestinos. Israel continua a reduzir Gaza a escombros, matando, ferindo e destruindo a população e criando condições de vida que a petição da África do Sul alega serem calculadas para a destruição física dos palestinos  como grupo étnico e nacional.

Os aqui abaixo assinados apoiam o governo democrático do Brasil e concordam com a decisão tomada pela diplomacia brasileira junto à Corte Internacional de Justiça. Nesse sentido nós apoiamos o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e o Ministro de Estado das Relações Exteriores, embaixador Mauro Vieira.

PAULO SÉRGIO PINHEIRO, Ex-ministro da Secretaria de Estado de Direitos Humanos

KENNETH ROTH, Ex-diretor Executivo da Human Rights Watch

EMBAIXADOR JOSÉ MAURÍCIO BUSTANI, Ex-diretor Geral da Organização para Proibição de Armas Químicas

JUAN E. MENDEZ, Ex-assessor Especial do Secretário-Geral da ONU para a Prevenção do Genocídio

FABIO KONDER COMPARATO, Professor Emérito da Faculdade de Direito, USP

EMBAIXADOR TADEU VALADARES, Ex-diretor do Departamento de Direitos Humanos e Temas Sociais, Ministério das Relações Exteriores

JAMES CAVALLARO, Ex-presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, OEA

MARILENA CHAUI, Professora Emérita, Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, USP

PAULO VANNUCHI, Ex-ministro de Direitos Humanos

REGINALDO NASSER, Professor de Relações Internacionais, PUC-SP

ROGERIO SOTTILI, Ex-ministro de Direitos Humanos

LUIZ CARLOS BRESSER PEREIRA, Ex-ministro da Fazenda, Ex-ministro da Administração Federal e da Reforma do Estado

EMBAIXADOR EDUARDO ROXO

LUIZ EDUARDO SOARES, Antropólogo e Escritor, Ex-secretário Nacional de Segurança Pública

NILMA LINO GOMES, Ex-ministra da Igualdade Racial

EMBAIXADOR FRANCISCO ALVIM

JOSE´LUIZ DEL ROIO, Historiador, Ex-senador da Itália

IDELI SALVATI, Ex-senadora, Ex-ministra de Direitos Humanos

MILTON HATOUM, Escritor

ELEONORA MENICUCCI DE OLIVEIRA, Ex-ministra de Políticas para as Mulheres

BRENO ALTMAN, Jornalista

SALEM NASSER, Professor de Relações Internacionais, FGV-Direito

PEPE VARGAS, Deputado Estadual- RS e Ex-ministro de Direitos Humanos

LAURA GREENHALGH, Jornalista

MARIA DO ROSARIO, Deputada Federal, Ex-ministra de Direitos Humanos

MARIA VICTORIA DE MESQUITA BENEVIDES, Professora Emérita, Faculdade de Educação, USP

BRUNO HUBERMAN, Professor de Relações Internacionais, PUC-SP

EMBAIXADOR JOSÉ VIEGAS FILHO, Ex-ministro da Defesa

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Divulgação realizada por solicitação do Professor Caio N. de Toledo (IFCH), na condição de sindicalizado à ADunicamp. As opiniões expressas nos textos assinados são de total responsabilidade do(a)s autore(a)s e não refletem necessariamente a posição oficial da ADunicamp, nem de qualquer uma de suas instâncias (Assembleia Geral, Conselho de Representantes e Diretoria).

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12 Comentários

Luzia Botelho

Declaro o meu apoio a decisão do governo do presidente Lula de apoiar a denúncia de genocidio da África do Sul contra o ministro de Israel.

Luzia Botelho

Declaro o meu total apoio a decisao governo do presidente Lula de apoiar a denúncia de genocidio da África do Sul contra o ministro de Israel.

Vanessa Lea, professora titular aposentada da UNICAMP

Favor incluir meu nome

Euler Conrado

Manifesto minha solidariedade e apoio ao presidente Lula pela corretíssima decisão de subscrever a ação da África do Sul contra a entidade sionista de ocupação, que promove covarde genocídio contra o povo palestino, especialmente crianças, mulheres e idosos.

Virgilio de Mattos

Somos todos palestinos! Parem o genocídio, já!

Aparecida Neri de Souza

Manifesto meu apoio a carta, gostaria de subscrevê-la.

Nilza Pires de Azevedo

Manifesto apoio ao Presidente Lula e ao embaixador Mauro Vieira. Jornalista e professora

Dr. Rosinha - Alto Representante Geral do Mercosul (Fev. 2015-Jan. 2017)

Se aceitarem também

Alda Cristina Duarte

As. vozes contra o genocídio praticado pelo Estado de Israel contra o povo palestino demonstra que os direitos humanos é e deve ser uma referência na relação entre os Estados.

Lea Maria Aarão Reis

Eu gostaria de assinar👆🏻como Jornalista.

Arlete Moysés Rodrigues

Manifesto meu integral apoio à Carta Aberta. Por favor incluam meu nome > parabenizo ao Professor Caio Toledo pela iniciativa

Dermeval Saviani, Professor Emérito da UNICAMP e Pesquisador Emérito do CNPq

Manifesta meu integral apoio à Carta Aberta acima transcrita, solicitando que seja incluído meu nome entre os apoiadores.

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