Manifesto de Mulheres de Esquerda da Unicamp (MEU): por uma Universidade + politizada e + democrática


Por Manifesto de Mulheres de Esquerda da Unicamp (MEU)

A Unicamp, enquanto instituição pública, enfrenta desafios que vão além das questões tradicionais da administração, englobando uma agenda científica e acadêmica de grande expressão social. O cenário atual, marcado por uma necessidade urgente de refletir sobre a participação feminina em todos os níveis da universidade, o que inclui as atividades de gestão, reforça a importância da politização da comunidade e do desenvolvimento de ações que promovam a ampliação da experiência democrática nas relações internas.

Embora, nos últimos anos, tenha havido avanços na participação feminina, esses progressos ainda são insuficientes. A limitada presença de mulheres em cargos de liderança revela uma realidade que exige transformação. Essa disparidade não apenas impacta a dinâmica da gestão universitária mas também restringe o potencial de desenvolvimento de uma agenda sociocultural intelectual e ideologicamente mais ousada, impulsionada pela integração de diversos atores sociais. Para essa mudança, são fundamentais o fortalecimento da capacidade crítica e a participação coletiva dos membros da comunidade universitária. Na prática, uma universidade mais estimulante e consciente se encontra mais preparada para garantir suas conquistas e avançar na percepção de seu papel frente ao desenvolvimento social e humano.

Nesse cenário, a politização – que requer o incremento da vida democrática interna, a compreensão crítica da estrutura e do funcionamento da Universidade, bem como a ampla participação em diversos níveis de decisão – torna-se crucial para o reconhecimento da importância do envolvimento de diferentes atores na ação política. Promover esse reconhecimento de forma ampla e concreta é condição imprescindível para a consolidação de uma experiência mais completa de cidadania, capaz de construir e transformar ações políticas de caráter universitário, sejam essas acadêmicas, científicas, administrativas, sociais, econômicas ou ambientais.

Concentrada no interesse público que rege universidades como a Unicamp, essa politização não se limita a debates públicos ou à formação crítica, mas passa pelo equilíbrio do jogo de forças que a constitui. Assim, os processos de politização necessariamente forjam pensamentos na direção da

a. defesa de seus valores, como autonomia e excelência acadêmicas;

b. mobilização constante pela manutenção e atualização dos direitos sociais;

c. interação socialmente qualificada e ativa em relação à comunidade externa, sua face pública mais exigente.

A politização busca, assim, na forma de mais democracia e mais participação feminina na gestão universitária, fortalecer uma consciência coletiva que prepare a comunidade para se posicionar de maneira informada e comprometida em relação ao que se espera da Unicamp enquanto universidade pública brasileira.

Um compromisso com a democracia na Universidade deve ser mais do que uma política formal, configurando-se como uma prática cotidiana e dialógica. É fundamental criar uma ambiência e oferecer condições que permitam aos diferentes segmentos da comunidade universitária pautar e debater as questões que definem a sua vida acadêmica e social, de forma a experienciar a Unicamp como uma realidade mais equânime.

Com o intuito de dar um sentido maior e positivo a esses dois eixos – politização e democracia – e considerando o contexto da próxima consulta para a nova reitoria da Universidade, fazemos alguns questionamentos às candidatas e aos candidatos à direção da Unicamp:

• Como planejam consolidar uma gestão universitária que estimule a politização da comunidade, priorize a participação pública e o protagonismo feminino no desenho de práticas institucionais, por exemplo, voltadas para a discussão de questões sociais e ambientais urgentes?

• Quais estratégias serão implementadas para fomentar a discussão desses temas e a criação de políticas internas mais inclusivas e eficazes?

• Como a Universidade pretende contribuir efetivamente para a formulação e execução de políticas públicas que dialoguem com as comunidades interna e externa à Unicamp?

Acreditamos que essas reflexões são essenciais para a Unicamp ser um espaço que expresse a diversidade de sua comunidade. Isso passa, entre outras coisas, pela ampliação dos direitos sociais das mulheres, pela equidade e por maior participação feminina na gestão da estrutura organizacional e política da Universidade.

Eis o nosso mister: trabalhar para que a Unicamp, além de ser reconhecida como um centro de excelência de produção acadêmico-científica, de formação profissional crítica e de práticas extensionistas socialmente referenciadas, seja também reconhecida como um espaço de promoção da justiça social e da igualdade racial e de gênero, como um estímulo constante à experiência democrática e como um modelo de avanço social.

Assinam este documento:

1. Adriana Bernardes (IG)

2. Adriana Piscitelli (Pagu/IFCH)

3. Águeda Bi`encourt (FE)

4. Alexandra Christine Helena Frankland Sawaya (FCF)

5. Alexandrina Monteiro (FE)

6. Aline Marcondes Miglioli (IE)

7. Ana Luiza Smolka (FE)

8. Ângela Soligo (FE)

9. Anna Christina Bentes (IEL/Pagu)

10. Aparecida Néri de Souza (FE)

11. Carla Kazue Nakao Cavaliero (FEM)

12. Chantal Victoria Medaets (FE)

13. Christiane Neme Campos (IC)

14. Cristiane Maria Megid (Cotuca)

15. Cynthia Agra de Brito Neves (IEL)

16. Dalvani Marques (Fenf)

17. Debora Mazza (FE)

18. Débora Souza Santos (Fenf)

19. Diama Bhadra Vale (FCM)

20. Dirce Djanira Pacheco e Zan (FE)

21. Edwiges Maria Morato (IEL)

22. Elaine Prodócimo (FEF)

23. Eliete Maria Silva (Fenf)

24. Helenice Yemi Nakamura (FCM)

25. Heloisa Lins (FE)

26. Iara Aparecida Beleli (Pagu/IA)

27. Inês Bragança (FE)

28. Islene Calciolari Garcia (IC)

29. Joana Froes Bragança Bastos (FCM)

30. Josely Rimoli (FCA)

31. Karla Bessa (Pagu/IA)

32. Lavínia Lopes Magiolino (FE)

33. Livia Oushiro (IEL)

34. Luciane Miranda Guerra (FOP)

35. Luiza Nassif Pires (IE)

36. Malu Arruda (FE)

37. Mara Regina Jacomelli (FE)

38. Maria Aparecida Guedes Monção (FE)

39. Maria Cristina Bahia Wutke (Cotuca)

40. Maria da Graça Garcia Andrade (FCM)

41. Maria José Mesquita (IG)

42. Maria Silvia Viccari Ga`i (IB)

43. Maria Teresa Clereci (FEA)

44. Marilane Oliveira Teixeira (Cesit/IE)

45. Mônica Corso (FCM)

46. Natália Corazza Padovani (Pagu/IFCH)

47. Nora Rut Krawczyk (FE)

48. Norma Trindade (FE)

49. Olívia Cristina Ferreira Ribeiro (FEF)

50. Regina Célia da Silva (CEL)

51. Regina Machado (IA)

52. Renata Altenfelder Garcia Gallo (Cotuca)

53. Renata Chrystina Bianchi de Barros (FCM)

54. Rosana Teresa Onocko-Campos (FCM)

55. Silvia Cristina Amaral (FEF)

56. Silvia Maria Santiago (FCM)

57. Sonia Regina da Cal Seixas (Nipe)

58. Suzel Reily (IA)

59. Suzi Frankl Sperber (IEL)

60. Tereza Paes (IG)

61. Thais Lima Nicodemo (IA)

62. Verónica González-López (Imecc)

Acesse aqui o Manifesto de Mulheres de Esquerda da Unicamp (MEU): por uma Universidade + politizada e + democrática

Foto: Antonio Scarpinetti

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Divulgação realizada por solicitação Maria Silvia Viccari Gatti (IB), na condição de sindicalizada à ADunicamp. As opiniões expressas nos textos assinados são de total responsabilidade do(a)s autore(a)s e não refletem necessariamente a posição oficial da ADunicamp, nem de qualquer uma de suas instâncias (Assembleia Geral, Conselho de Representantes e Diretoria).

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