Prof. Gustavo Tenório (FCM) | Caro Prof. Jaime


[box type=”info”]Divulgado por solicitação do Prof. Gustavo Tenório (FCM), na condição de sindicalizado. O conteúdo do texto não reflete necessariamente a posição da ADunicamp, de sua Diretoria ou de qualquer outra instância da entidade. Toda e qualquer responsabilidade por afirmações e juízos emitidos cabe unicamente ao autor do texto.[/box]
Será que faz diferença resolver um problema pela política e pelo diálogo, em vez de repressão e punição? Faz diferença viver em um lugar em que as pessoas só não se matam por medo da punição ? Ou, ao contrário, é melhor viver em um lugar onde outras forças e desejos mais solidários predominam nas relações humanas? Talvez a educação e a política também existam para isto. Não estou dizendo que não devam existir limites, mas a questão é que não me parece recomendável que a repressão seja o epicentro do nosso modo de lidar com conflitos e diferenças.
Na medicina, observei que, embora assembleias estudantis tenham decidido por greve, algumas turmas decidiram pela não adesão. Isto foi respeitado pelo movimento estudantil. Porém, nas turmas que decidiram por greve, quando houve alunos que buscaram negociar com professores, individualmente, para furar a greve, muitos dos professores do meu departamento repudiamos esta atitude, porque isto seria desrespeito pelo próprio grupo e pela democracia. Por que estes pactos não poderiam ocorrer no do movimento estudantil geral ? Ainda mais quando você diz que as ações estudantis – que, na sua opinião, não mereceriam uma abordagem nos marcos da civilidade -, seriam ações minoritárias. Se isto for verdade, mais um motivo para buscar resolver este problema com MAIS DEMOCRACIA, e não com menos; buscar formas pelas quais os próprios estudantes possam aprimorar, quando for o caso, as formas de luta e de expressão das suas demandas.
À exceção disso, os estudantes merecem um crédito especial na universidade, por dois motivos: (1) todas as vezes que houve greve de professores na UNICAMP (e foram muitas e muito importantes), os estudantes não só apoiaram (mesmo quando foram, quase sempre, os únicos prejudicados), como lutaram ativamente, compreendendo que o achatamento salarial, invariavelmente, viria sucatear a universidade. Nunca ouvi notícias de piquetes contra professores grevistas. (2) Em segundo lugar, nenhuma das mudanças, que o movimento estudantil almeja, beneficia diretamente os grevistas. Poucos dos ocupantes da TABA puderam utilizar a moradia. As mudanças curriculares, raramente, são vividas por quem as pleiteia. Assim sendo, parece-me que o movimento estudantil tem algo a nos ensinar sobre isto. Penso que merecem alguma consideração e paciência.
Temos, portanto, oportunidade de melhorar nossa universidade. Nada disto significa que agressões – venham de onde vierem – não possam engendrar punições. Acontece, porém, que a vida comunitária envolve um certo amadurecimento e desenvolvimento para reconhecer “os outros”, diferentes de nós; acontece que uma parte dos conflitos ocorre, precisamente, por falta de amadurecimento. Quando resolvemos conflitos entre pares, por meio da autoridade, geralmente produzimos mais infantilização e menos amadurecimento. E, assim, alimentamos novos conflitos.
Prof. Gustavo Tenório (FCM)


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