É a vida que nos mostra, cada vez mais: o ser humano não é o centro da Natureza


“A Natureza é a Mestra de todos os mestres e aqueles que se inspiram em qualquer coisa que não seja na Natureza, trabalham em vão”. Leonardo da Vinci

“Não somos o sal da terra. Temos que abandonar o antropocentrismo; há muita vida além da gente, não fazemos falta na biodiversidade. Pelo contrário. Alrton Krenak – O amanhã não está à venda

Os últimos anos mostraram  que o ser humano definitivamente não é o centro da  Natureza, e que seu conhecimento sobre ela pode se mostrar bastante precário e insuficiente para sua própria sobrevivência. Entretanto, em um quesito o ser humano se revelou indiscutivelmente imbatível e superior: sua capacidade de destruição e aniquilamento.

Assim, como uma professora muito severa, a Natureza exorta seus alunos a aprender essa grande lição da escola da vida: cuidar da Casa Comum, o planeta. Daqui para frente, a pergunta  “onde você mora?” precisa ser respondida sob a perspectiva dos limites do(s) corpo(s) e da Natureza. Embora acreditando-nos semi-deuses com pretensão de imortalidade, a realidade irrefutável é que somos seres perecíveis vivendo em um mundo com recursos finitos, algo que o cientificismo do século XIX, que pauta as nossas ciências modernas, buscou a todo custo apagar.

Aquele mesmo que fez também crer que cuidar do indivíduo, de um corpo único, pudesse ser suficiente e indissociável do cuidado com todos os outros corpos e seres que habitam o planeta. No entanto, como se tem visto em todas as “últimas aulas”, a saúde e o bem-estar  de cada corpo individual estão intrinsecamente relacionados à saúde do corpo social e da saúde e cuidado da Grande Casa Comum.

A mentalidade individualista e privatista apaga a noção de que o  sol, o ar, as águas e a terra são recursos e patrimônio de toda a humanidade; não podem continuar sendo usufruídos  de forma inconsciente e irresponsável. Simplesmente porque não há outro planeta que tenha reunido as mesmas condições que geraram esse espantoso e maravilhoso projeto: a Vida.

“O futuro precisa tomar para si a metáfora das plantas” Stefano Mancuso- A Revolução das Plantas

Cooperação, colaboração, descentralização, criatividade, resiliência, capacidade de regeneração, sustentabilidade, resistência  e solidariedade são algumas das características que tornaram o chamado Reino Vegetal capaz de resistir às piores catástrofes e às mais drásticas mudanças ambientais e, assim, sobreviver, diferentemente, de muitas espécies animais que capitularam ao longo do tempo. Estando no planeta desde muito antes de nós, as plantas são a grande memória coletiva e as testemunhas desse projeto extraordinário e misterioso, que é a vida na Terra, que não criamos, do qual somos parte, e que provavelmente iremos por fim, caso  não sejamos capazes de nos deter.

O Brasil na cena do crime

Um país que tem o nome inspirado em uma árvore praticamente extinta e cujo adjetivo “pátrio” designava originalmente “aquele que extrai a madeira do pau-brasil” parece trazer notas de uma tragédia civilizatória anunciada. Tragicamente, o arquétipo do colono (homem branco europeu), que veio extrair, usufruir e retornar à Europa, continua a nortear o “projeto de nação“ de brasileiros que consideram que “a Pátria”  é para alguns (aqueles que correspondem ao perfil daquele mesmo o colono) e que todo aquele que não corresponde a esse arquétipo é “estrangeiro” e deve ser eliminado.

Todas as áreas do conhecimento precisam atuar conjuntamente para que possamos sair deste “Brasil paralelo” para que possamos voltar a esta realidade:  ocupamos um território que detém a maior diversidade de espécies e biomas, o maior aquífero (conferiram por favor). E que obviamente tudo que acontece aqui tem impacto imediato em todo o planeta.

Infelizmente essa realidade de fato está em total descompasso com a (falta de) educação ambiental oferecida ao povo que habita esse território e que deveria ser responsável por esse enorme patrimônio. Nossa sobrevivência e de todos aqueles que virão, nos quatro cantos do planeta, depende não apenas da preservação, mas do diálogo e do aprendizado com os povos originários que acumularam sabedoria para proteger e cuidar da Vida.

Que as sementes que você está recebendo aqui possam inspirar você a ressignificar o sentido da (sua) Vida e a esperançar, ativamente, no futuro.

Por Regina Célia da Silva (Profa de Italiano Centro de Ensino de Línguas). Tradutora de A Revolução das PlantasA incrível viagem das PlantasA planta do mundo  de Stefano Mancuso, Ed. UBu

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