Três mesas de Trabalho reuniram oito estudiosos e especialistas em diferentes áreas da comunicação, ao longo desta sexta-feira, 20 de maio, no segundo dia do Seminário de Comunicação Sindical – Mídia e Política no Século XXI, promovido pela ADunicamp em parceria com o Núcleo Piratininga de Comunicação. O Seminário foi realizado de forma híbrida, com conferencistas e participantes tanto presenciais, no auditório da ADunicamp, ou online.
A primeira Mesa, com o tema Comunicação no Século XXI – Internet, Polifonia, Controle Social e Possibilidades Emancipatórias, reuniu os professores Eugênio Bucci, da ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes) e Márcio Carneiro dos Santos, da UFMA, onde coordena o Laboratório de Convergência de Mídias, e também Diego Dorgam, especialista em gestão, desenvolvimento ágil e governança de TI (Tecnologia da Informação).
O professor Eugênio, que já presidiu a Radiobras de 2003 a 2007, falou sobre as grandes transformações do papel da comunicação no capitalismo moderno, que que foram fortemente aceleradas pelas novas tecnologias. “Fomos adestrados a conceber a comunicação como uma extensão que viria depois de decisões tomadas nos núcleos do poder. Comunicação seria uma esfera acessória do que se passa no mundo do poder e da política”.
Mas, segundo ele, hoje “está escancarado” que a comunicação se encontra no centro do capitalismo. “O fluxo de dados, o fluxo dos discursos e o fluxo de dados pessoais assumiu o centro do capitalismo”, com o capital financeiro no coração das megacorporações bilionárias de comunicação e informação. “As empresas mais valiosas do capitalismo são hoje os monopólios que se identificam ao extrativismo dos dados pessoais e exploram o mercado”.
O extrativismo de dados e suas formas de ação e atuação no mercado já são bastante estudados, segundo o professor, mas há outra mudança em curso no capitalismo moderno, intrinsecamente ligada à comunicação: “Trata-se da transformação da mercadoria de coisa física em imagem”. A mercadoria moderna, além da coisa corpórea, externa e física, que preenche uma necessidade com valor de uso e de troca, como definiu Karl Marx, no século XIX, “se ancora hoje na fantasia, na imagem, e interpela o desejo nas pessoas”.
“A mercadoria aparece para o sujeito como um signo que vai emprestar sentido ao que é vazio no sujeito. A mercadoria interpela o desejo e não mais a necessidade. O valor de uso virou valor de gozo”, avaliou. Mesmo quando se fala de mercadorias como o petróleo ou o aço, “na ponta está o desejo, encarnado no signo do automóvel, do turismo” e assim por diante.
“O capitalismo fez com a que mercadoria fosse antes de tudo uma imagem. Criou a superindústria do imaginário. Isso é anterior a invenção das redes, da internet, do computador. Mas é agora a tecitura, a forma estruturante do capital”, e se ancora radicalmente na comunicação. E ao se transformar no centro do capitalismo, a atividade de comunicação está no centro do poder, a quem interessa totalmente a desinformação e a criação de comportamentos de manada nas redes.
Assim, para o professor Eugênio, essa concentração do capital torna assimétrica a discussão da comunicação. “A hipertrofia das big techs só será contida se houver regulação. Governos democráticos regulam o mercado. Deveriam regular, no plano internacional, a hipertrofia desses conglomerados”. E essa questão, avaliou o professor, não pode sair da pauta das lutas da comunicação popular e sindical.
O professor Eugênio é autor do livro “A Superindústria do Imaginário” (Autêntica, 2021), que disseca o tema.
‘O PRODUTO É VOCÊ’
“Se você não paga pelo produto, o produto é você”. A famosa frase popularizada pelo filme o Dilema das Redes (2020) foi utilizada pelo segundo conferencista do dia, professor Márcio Carneiro dos Santos, especialista em Teorias e Tecnologias da Comunicação, para apresentar o modelo de negócios das redes sociais e as implicações dele, que vão muito além da compra e venda de produtos e serviços.
“Como pessoas e ideias moralmente duvidosas conseguem espaço, crescimento e influência no ambiente digital?”, indagou o professor. “De repente, tudo começa com uma mamadeira. Você entra na internet e procura uma mamadeira para sua netinha, como pode acontecer comigo, que tenho uma neta. Imediatamente você começa a ser assombrado por mensagens com produtos para bebês”. E a “assombração” aparece, pontuou ele, em qualquer outro site, canais de internet e redes sociais que o vovô ou a vovó acessem.
Ou seja, os serviços oferecidos “gratuitamente” para acesso a redes sociais e navegação na internet prospectam os dados pessoais dos usuários, os vendem para empresas anunciantes e é assim que as big tech garantem os faturamentos bilionários que as colocam hoje entre as empresas mais valiosas e lucrativas do mundo.
Essa relação virtual entre compradores potenciais e empresas interessadas na venda de seus produtos é intermediada pela Inteligência Artificial a partir dos chamados “algoritmos de interação”, apresentados no universo do marketing com um dos grandes avanços no mundo comercial propiciado pelas novas tecnologias.
E, inicialmente, segundo o professor, não a nada a se opor aos “algoritmos de interação” no mundo comercial. “Vejo o que você gosta e apresento o que você gosta. Só que nossos dados são monitorados permanentemente, região geográfica, o que você acompanha, com quem fala, o que você vê, que mensagens ou notícias compartilha. Captam nossos dados, nos empacotam e nos classificam”.
E quanto mais tempo as pessoas passam interagindo nas redes, mais informações disponibilizam sobre as áreas de interesse delas. Daí a permissão intencional das mídias de não coibir, como poderiam, a proliferação de ideias “moralmente duvidosas” e muitas das fake News que circulam em abundância, desde que sejam compartilhadas e prendam a atenção do maior número de pessoas.
“Notícia ruim é notícia boa, já dizia o chavão da imprensa. Elas geram atenção e as pessoas acabam compartilhando. É assim que se propagam. Os algoritmos te definem, te aproximam de grupos e pessoas que pensam e têm os mesmos interesses que você, e aí tem a geração das bolhas. Daí eu tenho uma coisa que é estranha para as pessoas, mas elas se engajam no tema, podem até falar mal, mas divulgam”.
Grupos com pessoas que pensam e agem de maneira semelhante geram uma autoconfiança comum. E é assim que nasce, segundo o professor, o fenômeno do contágio, do “comportamento de manada”.
“Agora, se ao invés de recomendar produtos e serviços eu pudesse usar esse mesmo fenômeno, esse volume de informações sobre as pessoas, para recomendar ideias, posições, conceitos?”, questionou o professor. E, para ele, é isso que está hoje está no centro da política.
Quanto mais “aprisionadas” nas mídias e circunscritas nas chamadas “bolhas”, mais suscetíveis as pessoas estão para confiar nas informações que recebem. “A luta pelo poder nas redes sociais, assim como o marketing político, tem interpretado isso e utilizado. Mas estamos falando de sistemas complexos e não existem fórmulas simples ou já prontas para que enfrentemos essa questão”, alertou.
REDES OCULTAS
“A grande revolução capitalista das redes sociais que foi essa nova forma de distribuir anúncios, agora se converte numa mega empresa que usa Inteligência Artificial para ver como as pessoas se comportam. Faz um perfilamento do público, uma micro segmentação que tenta converte-lo cada vez mais para o meu produto”, avaliou Diego Dorgam, o terceiro palestrante.
Quando o marketing digital é convertido para o marketing político, usa o mesmo caminho. E, para Diego, “isso tem influências e impactos devastadores na sociedade” e exige, cada vez mais, que tenhamos uma compreensão profunda do funcionamento das redes, uma vez que as corporações não apresentam transparência nenhuma em seus algoritmos e na captação e utilização dos dados que coletam.
O que aconteceu nas eleições que levaram Jair Bolsonaro à presidência é um exemplo. “No começo, ninguém sabia o que estava acontecendo no WhatsApp. Ficou todo mundo atônito. Afinal, como as pessoas podiam acreditar nas ideias e nas fake News propagadas?”, lembrou ele.
Especialista em Inteligência Artificial, Diego realizou o que chama de engenharia reversa para se aprofundar no estudo do fenômeno e descobriu que na verdade havia uma rede social oculta e extremamente organizada operando dentro e com os instrumentos do WhatsApp.
Utilizando perfis falsos, robôs de internet e estratégias de impulsionamento e segmentação de públicos, a rede oculta se confundia com o WhatsApp. “Não tinha como prever”. As investigações de Diego chegaram a detectar 548 comunidades geridas por essa rede social oculta. “Cada uma delas relacionada com algum dos epicentros da campanha de Bolsonaro: bolsominions, religiosos, produtores de opinião e assim por diante”, relata.
Como as comunidades estavam claramente circunscritas em bolhas, como a dos evangélicos, por exemplo, e tratavam de vários assuntos além da política, havia um ambiente de confiança quando a informação, mesmo falsa e vinda de perfis falsos, era recebida. E foram detectados grupos dos mais variados perfis: desde grupos de oração, de namoro, até um grupo de troca de pornografia masculina. “Aí estudamos e compreendemos a rede bolsonarista como um todo”, conta Diego.
A estratégia de convencimento nas comunidades era muito organizada. Divulgava informações, reais ou falsas, focadas na persuasão e convencimento dos diferentes públicos das comunidades, e tinha capacidade de disparar uma quantidade gigantesca de informações diárias, alimentando as centenas de grupo. A estratégia, avalia ele, é de dominar “não pela falta de informações, mas pelo excesso”.
Para Diego, a extrema direita tem usado uma clara estratégia de desinformação para propagar suas ideias, não só no Brasil, mas em vários países da América Latina e do mundo. No Brasil, ela está em curso hoje nos ataques ao STF e ao Congresso Nacional. “Em fevereiro de 2020 começaram as manifestações contra o Congresso e o STF, logo vêm nas redes os conteúdos das igrejas apoiando o fechamento do STF e. em seguida, começam a circular as fake News”, relatou.
Essa estratégia, com micro compartimentos de informações em comunidades nas redes, fortalece o discurso único. “A desinformação é colocada como um processo de libertação, à margem de qualquer debate público”. Como se as mentiras propagadas fossem, de alguma forma, a verdade que os adversários tentam ocultar.
Para Diego, é indispensável que haja maior clareza e regulação sobre o que realmente está acontecendo nas redes. “O inimigo não é a ferramenta, mas quem faz uso dessa ferramenta com maior efetividade e desigualdade. Temos que coibir e penalizar o mal uso. Pois o que circulam nesses grupos não são narrativas democráticas, mas crimes disseminados e com impunidade, criando despreparo da população para o processo eleitoral. Isso é terrorismo digital”, apontou Diego.
Redes sociais e internet: a ‘encrenca’ que tem que ser enfrentada
“Nós estamos diante dessa encrenca que é discutir a questão da internet na comunicação sindical. É realmente uma encrenca, uma enorme tarefa de conquistar corações e mentes, diante da comunicação monopolizada pelos conglomerados de mídia que repetem e repetem e repetem as mesmas notícias e ideias, e também agora diante das mega big thecs da internet e das redes sociais”, desafiou a professora de História e diretora do Núcleo Piratininga de Comunicação, Cláudia Santiago, ao abrir a segunda Mesa do dia, que tratou da Comunicação Sindical nos Locais de Trabalho e de Forma Remota.
Cláudia, co-autora do livro “Comunicação Sindical: a arte de falar para milhões”, lembrou que a comunicação sindical tem uma longa história no Brasil e já atravessou momentos muito mais difíceis que os de hoje, como ocorreu, por exemplo, durante a ditadura militar. Para ela, todas essas dificuldades foram enfrentadas principalmente a partir do fortalecimento e união entre as entidades sindicais.
“E o objetivo desse seminário é exatamente o de juntar gente para atuar no campo da comunicação. De uma forma ou de outra, agora as nossas vidas estão conectadas com essas redes, novamente definindo hábitos e ideias. Nosso desafio é chegar às pessoas. É compreender e agir neste novo momento”.
NOVAS FRENTES
A busca pela compreensão deste novo momento, apontado por Cláudia, foi o que levou o jornalista do SINTPq (Sindicato dos Pesquisadores/SP), Ricardo Andrade, mestrando em comunicação pela PUC-Campinas, a realizar um amplo estudo sobre a comunicação sindical conduzida por cinco grandes sindicatos do país.
“O que busquei foi entender a relação com as diferentes mídias no trabalho dos sindicatos”, disse Ricardo. A pesquisa selecionou sindicatos de referência em diferentes categorias e que se destacam na comunicação. A primeira característica que ele identificou foi a formação multidisciplinar e profissionalizada das equipes. “Antes, um jornalista resolvia a questão. Hoje, com as novas ferramentas, o trabalho exige também profissionais de diferentes campos, como designer gráfico, filmagem, edição de vídeo, atuação nas redes socias e gestão de dados, já que é impossível um único profissional ter nível aprofundado em todas essas áreas”, apontou ele.
As equipes completas permitem que os sindicatos estudados atuem de forma eficiente nas diferentes redes sociais e também junto às mídias tradicionais, como jornais, rádios e TVs, desde as emissoras comerciais às comunitárias ou de sites independentes na internet. Todos os sindicatos pesquisados produzem também e regularmente boletins e outras formas de materiais impressos. Isso, para ele, mostra que a comunicação sindical se torna muito eficaz quando cria mecanismos para atuar com todos os meios disponíveis.
Outra característica importante verificada pela pesquisa foi utilização das redes sociais não só como vitrine para expor as peças de comunicação, mas como ferramenta integrada de luta, ou seja, como instrumento de comunicação com outros setores da sociedade, além de suas categorias sindicais.
“Importante também foi verificar que todos utilizam as novas tecnologias para desenvolver plataformas que garantam a comunicação de mão dupla, ou seja, a categoria não apenas recebe a informação, mas tem como falar com o sindicato. Alguns desses sindicatos têm inclusive chats com atendentes o tempo todo”, relatou.
Assim, para Ricardo, a utilização de todas as ferramentas disponíveis de comunicação é uma chave que permite transpor muitas das dificuldades e ataques que o sindicalismo vive hoje no Brasil. “O sindicato tem um poder de alcance nunca visto antes, como é o caso das assembleias virtuais que permitem que todo mundo, mesmo em diferentes sedes, acompanhe”, avaliou.
DESINFORMAÇÃO
Para o jornalista e cientista político Guilherme Mikami, cofundador da agência de comunicação sindical Abridor de Latas, a disputa disparada pela extrema-direita nas redes sociais é baseada em dois conceitos que a comunicação sindical deve enfrentar e tem instrumentos para isso.
O primeiro conceito é a disseminação da desinformação, largamente utilizada na campanha presidencial de Jair Bolsonaro. No começo, lembrou ele, as fake News pareciam brincadeiras, pequenas mentiras e piadas para atrair visitantes para o site e para comunidades nas redes sociais.
Essa arma deu margem para a utilização do segundo conceito apontado por Guilherme, o do engajamento dos visitantes nos grupos da internet. Conforme as comunidades eram criadas, as fake News passaram a ser amplamente utilizadas para mudar a percepção das pessoas sobre a sociedade, como o ataque às universidades e escolas, que seriam “lugares onde seus filhos não devem ficar”.
“Nesse caso, era como se professores estivessem degenerando as crianças. Realidades que não existem começam a existir para as pessoas. Acreditar na Terra plana ou qualquer outra coisa absurda leva as pessoas a acreditar em qualquer coisa. Terreno aberto para a desinformação”, avaliou.
A partir daí, a extrema-direita percebeu que as redes sociais eram o melhor caminho para uma disputa de narrativa. “E os extremistas que criam as fake News nem precisam acreditar no que produzem, mas sabe que funcionam”. E quanto mais a mentira circula mais ela vai render e por isso, com mecanismos muito falhos de controle, as redes sociais dão plena liberdade a elas.
Estudos recentes mostram que a desinformação gera mais engajamento do que a informação correta. “A cultura de engajamento é muito grande na direita e pouco entre progressistas e pessoas de esquerda. A extrema-direita sabe como funciona a desinformação do ódio e tem colocado a democracia em risco pelo brasil e fora. A tática é acuar adversários, ameaçar, calar, intimidar, gritar e espernear. Assim dão a impressão que são muitos e estimulam o medo nas pessoas o tempo todo. A tática é parecer maiores do que realmente são”, apontou.
Para Guilherme, a estratégia acua adversários, mas principalmente reforça a bolha da extrema-direita, que se une pelo medo dos oponentes. As avaliações dele mostram que a bolha da extrema-direita recebe altos investimentos para ser impulsionada e é extremamente fechada em si.
Por isso, não é com essa a bolha que a comunicação sindical e progressista deve brigar ou tentar atingir. “A nossa bolha é menor, mas totalmente diferente da deles. E, na verdade, a grande bolha das redes sociais é uma massa de pessoas que não está inclinado para nenhum lado. E tem uma grande maioria delas que está na base dos sindicatos, então é essa a grande bolha com a qual temos que conectar”, defendeu.
E as entidades sindicais e progressistas têm a seu favor, na avaliação de Guilherme, pontos fundamentais para disputar narrativas: “pautas justas, humanidade, somos muitos e temos algum grau de organicidade e organização”.
Ocupar territórios, resgatar a história e atuar em todas as frentes
Na luta por ideias, a comunicação sindical tem que ir além da internet e das mídias tradicionais e “ocupar territórios”, ou seja, ir ao encontro de suas bases e suas comunidades. Essa é a avaliação da jornalista e militante feminista Denise Simeão, mestra em Mídia e Artes pela PUC/Campinas, e que falou na terceira Mesa do dia, Outra Comunicação é Possível nos Bairros e nas Ruas.
Denise conta que o surgimento da internet empolgou setores progressistas quando surgiu. “Pensávamos em redes independentes onde muito pudessem ser depositários. Achávamos que poderíamos romper a hegemonia dos conglomerados de mídia e, em algum momento, até conseguimos. Depois fomos vendo que não era bem isso. Eram espaços empresariais, hoje controlados pelas megacorporações”, relatou.
A professora Cláudia Santiago, que também participou da Mesa, defendeu a mesma posição: “O sindicato tem que voltar a atuar nos bairros, tem que voltar a fazer política, encontrar as comunidades”. Ela lembrou que a imprensa sindical travou importantes disputas ao longo de sua história e também tem sido fundamental na luta ideológica contra o neoliberalismo.
Cláudia contou que o resgate de parte importante dessa história está em curso, a partir da sistematização dos arquivos do CPV (Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro) que detém o principal acervo sobre a imprensa sindical e dos movimentos sociais brasileiros e da América Latina nos anos 1970, 1980 e 1990.
A historiadora Paula Salles, responsável pela catalogação e sistematização do acervo, que hoje se encontra na Unicamp, contou que em breve o material será aberto para a consulta pública. O acompanhamento dos trabalhos pode ser feito pelo site www.cpvsp.org.br.
“CPV surgiu no momento em que a ditadura estava com uma repressão muito forte, com o engajamento da guerrilha dos anos 1970, e realiza um verdadeiro trabalho de formiguinha. A proposta é registrar nossa história. Precisamos registrar nossa história, pois isso sempre vai nos ajudar no futuro”, defendeu Paula.
Para a historiadora, assim como no passado cabe hoje aos sindicatos escrever e zelar pela história dos trabalhadores. “É muito importante que os sindicatos também coloquem hoje o seu olhar e a sua comunicação nisso”.
NA ESSÊNCIA
A jornalista Nina Fideles, da direção geral do jornal Brasil de Fato, que além da internet circula em forma impressa em muitas cidades do país, o debate da comunicação nunca está fechado. “Muda o meio, muda a conjuntura, mudam as ferramentas. Então é sempre um desafio permanente. E nosso objetivo é atuar para que as pessoas tenham mais consciência e mudem o país para melhor”.
Para Nina, não existem fórmulas únicas a serem aplicadas na comunicação de diferentes sindicatos e movimentos sociais, até porque alguns se comunicam com públicos de nichos específicos e outros com públicos amplos. Mas o essencial, avaliou ela, é que sejam criados mecanismos permanentes de troca de informações, conteúdos e experiências.
“O Brasil de Fato veio dessa pegada de juntar diferentes jornalistas e movimentos de vários cantos do Brasil. Por muito tempo se sustentou como impresso semanário, mas aí vieram as redes”. Então foi criado o Centro Popular de Mídia, que entre outros produtos, produzia conteúdo para rádios, inclusive rádios comerciais, internet e redes sociais.
“Podemos até achar brechas nos algoritmos, mas não vamos conseguir mudar a lógica das redes sociais. Portanto, uma decisão que é clara para nós é que temos que produzir e oferecer um jornalismo de qualidade, com rigor, checagem e com pautas orientadas pela nossa posição política”, defendeu.
Para ela, é fundamental que a comunicação sindical e o jornalismo independente atuem em todos os lugares possíveis “na cultura, nas redes, nas ruas, nos muros”. “Mas temos que canalizar e ser assertivos naqueles pontos em que podemos atuar, pois não temos como disputar com as corporações todas”.
OFICINA DE COMUNICAÇÃO
O Seminário de Comunicação Sindical – Mídia e Política no Século XXI, foi encerrado neste sábado, 21 de maio, com a Oficina de Comunicação Sindical e Mídias Digitais, conduzida pelas jornalistas Najla Passos, mestre em Linguagens/Estudos Literários e Culturais, e Kátia Marko, editora do Brasil de Fato do Rio Grande do Sul.
A oficina, ministrada no auditório da ADunicamp, mostrou e discutiu técnicas e experiências de comunicação e atuação de entidades sindicais e sociais nas mídias eletrônicas.
Foram os seguintes os temas tratados:
Mídias sociais e suas ferramentas – Estratégias para domar o algoritmo e viralizar conteúdos, mobilizar pessoas e criar ações virtuais de sucesso.
Cobertura colaborativa de atividades – Como envolver colaboradores para realizar transmissões ao vivo; a hashtag com o indexador virtual; ação especial nas redes sociais.
Site como integrador da presença digital – A importância do website para a difusão, organização e registro histórico dos movimentos sociais. Site como articulador de estratégias transmitidas de comunicação.
Fotos: Paula Vianna/ADunicamp; Léo Silva e Adri Grittem/QuemTV
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