“Tudo que é sólido parece estar se derretendo”, avalia o professor Ricando Antunes (IFCH)
Ainda no calor dos acontecimentos, em 16 de março, apenas um dia após as manifestações do dia 15, o professor de Sociologia do IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) da Unicamp, Ricardo Antunes, discutiu o significado político e os possíveis desdobramentos dos protestos em uma longa entrevista – de quase 20 minutos – que concedeu ao jornalista Helton Grimaldi, da Rádio CBN de Campinas.
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Na avaliação do professor Antunes, embora as manifestações do dia 15 tenham alguns laços com os protestos de rua que se alastraram por todo o Brasil em junho de 2013, algumas de suas principais características são bastante diferentes. “Aquelas, diziam sobre o fosso enorme que há entre o mundo institucional e a vida nas ruas”, avalia. Já nas manifestações de agora, mesmo mantidos todos os componentes de descrença com o Congresso, os políticos e governos, “entra também a revolta contra a corrupção, com a questão da Lava Jato”.
Antunes afirma que o contraponto entre os milhões de dólares tratados nas denúncias de corrupção e o aumento no preço das tarifas, a falta d´água e o desemprego, reforçam “a sensação de descrédito e de revolta”.
AS ASAS DA DIREITA
Outro ponto importante nas manifestações do dia 15, de acordo com Antunes, é a orientação claramente conservadora do atual movimento, à direita no espectro político, ao contrário do que ocorreu em 2013.
Para o professor, embora o descontentamento seja “popular e policlassista”, os principais responsáveis pela deflagração dos protestos do dia 15 foram as classes médias, com forte participação de médios e grandes empresários.
REFORMA POLÍTICA
Na avaliação de Antunes, o Brasil caminha para uma polarização política, mas dentro de um quadro extremamente difícil e sem um horizonte claro no futuro imediato.
“Pede-se uma reforma política, mas quem vai fazer a reforma política? Este Congresso?”, pergunta ele. Afinal, lembra o professor, mais de metade dos atuais congressistas são citados nas listas dos que receberam dinheiro das empreiteiras denunciadas na Lava Jato. “O Congresso não tem credibilidade para fazer a reforma política”, aponta.
DESINFORMAÇÃO
A falta de informação de segmentos de manifestantes também é um dado político muito preocupante, segundo Antunes. “Embora fossem minoria, vimos manifestantes pedindo a volta dos militares, mas durante a ditadura a corrupção era altíssima, a inflação altíssima”, relata.
O atual quadro de descontentamento com a institucionalidade política, que se manifestou inclusive nas vaias contra todos os políticos que tentaram subir nos carros de som, não tem uma alternativa no atual cenário político do país.
Para o professor, o projeto do PT esgotou-se, mas se tivesse ocorrido o contrário – a vitória de Aécio Neves nas últimas eleições – a situação certamente estaria muito pior, pois os cortes seriam ainda mais profundos nos gastos sociais, seguindo o modelo neoliberal clássico.
O quadro atual, na avaliação do professor, “é muito difícil” e com desdobramentos ainda mais difíceis de serem avaliados no momento. “Tudo que é sólido parece estar se derretendo. E não temos alternativas no cenário”, conclui.
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