Teve início nesta segunda-feira, dia 06 de fevereiro de 2023, o 41º Congresso do ANDES-SN, que tem como tema central a defesa da educação pública e a garantia de todos os direitos da classe trabalhadora. Professoras e professores provenientes de universidades federais e estaduais, institutos federais e centros federais de educação tecnológica de todo o país se reúnem em Rio Branco (AC) até sexta, dia 10 de fevereiro, para debater e deliberar sobre as ações e pautas que irão orientar as lutas da categoria durante todo o ano de 2023.
O evento, que conta com a participação de mais 600 docentes, está sendo realizado na Universidade Federal do Acre (Ufac), sob a organização da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Acre (Adufac – Seção Sindical). Essa é a primeira vez que o congresso do Sindicato Nacional é realizado na capital acreana.
Instância máxima do ANDES-SN, o 41º Congresso tratará de pautas importantes da categoria docente como carreira e reajuste salarial, financiamento das Instituições Públicas de Ensino, adoecimento docente, ensino remoto, entre outras, além de temas da conjuntura nacional e internacional da luta da classe trabalhadora.
ABERTURA, ARTE E DEFESA DOS POVOS ORIGINÁRIOS
O 41º Congresso teve início com a exibição de um vídeo que apresentou todas as ações, do ANDES-SN, em defesa da educação e da categoria docente durante os anos de 2021 e 2022. Foram exibidas imagens de carreatas, marchas e construção de dias nacionais de luta em defesa da educação, da vida, dos serviços públicos, das trabalhadoras e dos trabalhadores, e contra o machismo e racismo, em defesa da democracia e das liberdades democráticas. Na sequência, subiu ao palco o grupo Cantos e Encantos Yawanawa, composto majoritariamente por mulheres do povo Yawanawa, originárias da Terra Indígena do Rio Gregório, em Tarauacá (AC).
Na plenária de abertura, a presidenta do ANDES-SN, professora Rivânia Lucia Moura de Assis, agradeceu a recepção e destacou a diversidade, a vida, a luta e resistência do povo acreano. “Quero quebrar o protocolo e dizer da alegria de estar neste palco composto por tantas vidas. Da alegria de ser recebida no Acre, estado de luta e de resistência.”
A professora Rivânia seguiu a abertura convocando os(as) integrantes da mesa, destacou a grave situação enfrentada pelo povo Yanomami em Roraima e lembrou a nefasta política ambiental do governo Bolsonaro. “É impossível começar este Congresso sem lembrar dos povos Yanomami, do genocídio programado pelo governo de morte de Bolsonaro e sua total entrega da floresta amazônica aos grileiros, garimpeiros e aos empresários do agronegócio, no processo mais brutal e violento desse território”, afirmou a profesosra, que aproveitou a oportunidade para reafirmar o compromisso do 41º Congresso do ANDES-SN.
“Também é impossível começar este congresso no Acre sem lembrar o genocídio a que esses povos foram submetidos. Mas também devemos lembrar da resistência desses povos, exemplo de luta. O tema deste congresso – em defesa da educação pública e pela garantia de todos os direitos da classe trabalhadora – nos chama a esse compromisso. Temos vivido um período de extinção de várias conquistas da classe trabalhadora, de ataques à vida em todas as suas dimensões, de ataque ao meio ambiente e aos povos originários, a previdência, a saúde, a segurança pública, e a educação. Nós temos o compromisso neste congresso de pautar essas questões e sairmos daqui fortalecidos para enfrentarmos nossos desafios”, disse a professora Rivânia Moura.
A mesa da plenária de abertura do Congresso foi composta pela presidenta do ANDES-SN, professora Rivânia Lucia Moura de Assis (UERN); pela primeira secretária do ANDES-SN, professora Maria Regina de Avila Moreira (UFSC) e pelo primeiro tesoureiro do ANDES-SN, professor Amauri Fragoso de Medeiros (UFCG). Também fizeram parte da mesa o professor José Sávio da Costa Maia (UFAC), presidente da Regional Norte I do ANDES-SN; a professora Letícia Helena Mamed, presidenta da ADUFAC; a professora Margarida de Aquino Cunha, Reitora da UFAC; a estudante da UFAC e integrante do Movimento por uma Universidade Popular (MUP), Amanda Dorneles; a líder seringueira e primeira presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (AC), Dercy Telles; a estudante Luana Rodrigues da Silva, integrante da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Rio Branco (AC); a líder e representante indígena, Letícia Luiza Yawanawa; e o integrante da Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Paulo Barela.
CONJUNTURA INTERNACIONAL E NACIONAL
Paulo Barela, representante da CSP-Conlutas, destacou o momento da atual conjuntura internacional e nacional, com a guerra entre Rússia e Ucrânia, greves gerais em países europeus, eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a derrota de Jair Bolsonaro (PL), entre outros acontecimentos. “Esse congresso se coloca no centro de uma política de uma conjuntura efervescente”, afirmou. “Os sindicatos, muito além de suas reivindicações corporativas, como dizia Lenin, devem se transformar em escolas para avançar na consciência de classe, rompendo com as amarras do Capital para a construção de uma sociedade igualitária. Há de se comemorar a derrota desse genocida, no entanto é necessário que os sindicatos mantenham sua independência e autonomia frente ao governo e construam políticas que garantam as nossas reivindicações”, pontuou.
Nedina Luíza Yawanawa, representante do Movimento Indígena do Acre e professora indígena, contou que após anos de políticas de ataques aos direitos das e dos indígenas, esse momento é de esperança. “Eu aprendi no meio de vocês que uma sociedade que tem conhecimento é uma sociedade forte e que atacar a educação é destruí-la. Tivemos um governo que retirou recursos das universidades. Agora, estamos vivendo um momento de esperança nesse novo governo, que nos convidou, povos indígenas, a ser protagonista dos nossos órgãos como a Funai, Sesai, e com a própria criação do Ministério dos Povos Indígenas. E isso nos alegra porque é um momento que estamos participando ativamente da sociedade brasileira. Estamos juntos com vocês na mesma luta. Os povos indígenas estão resistindo até agora e queremos ser inclusos nas políticas públicas na saúde e educação que é o caminho para uma sociedade melhor e forte”, disse.
Dercy Telles, líder seringueira e a primeira mulher a presidir o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (AC), esteve presente no congresso e foi muito aplaudida pelas e pelos participantes. “Sou uma das únicas sobreviventes, que resiste a essa política do Capital, de enganação. Quando se trata de um sistema capitalista não tem outra forma de se sobrevier a partir da organização de classe independente do local. Eu venho de um histórico de luta e tive o prazer de conviver com o líder sindical Chico Mendes, assassinado em 1988, e que lutou pela vida e pela terra de trabalhadores, seringueiros, ribeirinhos, indígenas. Eu fiz parte dessa luta e mobilizamos muita a base, principalmente do município de Xapuri, e conseguimos contagiar os outros sindicatos. Essa universidade, através dos professores e estudantes, foi fundamental para organizar a classe trabalhadora do Acre. Infelizmente, o movimento sindical do Acre foi descontruído ao longo desses 20 anos que antecederam o governo atual. Por isso, afirmo que não tem como servirmos a dois senhores, ou você defende a classe ou você defende o governo. Sindicalista que defende classe não se alia a governo nenhum. Por conta desse meu posicionamento fui muito perseguida”, contou.
Para Amanda Dornelles, do Movimento pela Universidade Popular (MUP), os ataques dos últimos anos, que também antecedem o governo de Bolsonaro, provocaram seguidas retiradas de direitos da população. Nas universidades não foi diferente. “Esse aprofundamento se deu nas universidades, com os inúmeros processos de intervenção em várias instituições federais país afora, com ataques à autonomia universitária. O processo de cortes no orçamento ampliou a evasão nas universidades. Estudantes da classe trabalhadora tiveram que decidir se estudavam ou trabalhavam para sobreviver. Com o aumento da evasão, a universidade se tornou cada vez mais elitizada. Na Ufac, um levantamento feito em 2020, mostrou que mais de 70% das e dos estudantes da universidade se encontram em vulnerabilidade socioeconômica”, contou.
Letícia Mamed, presidenta da ADUFAC, agradeceu a presença das e dos docentes que vieram de todos os estados do país para o 41° Congresso no Acre. “Há um ano, nos candidatamos para sediar esse evento. Há seis meses, realizamos reuniões diárias para tornar esse desafio concreto. Comemoramos 43 anos da nossa seção sindical e a melhor forma de mostrar nossa força é realizando esse congresso. Somo pequenos, em torno de 450 associados, mas muito corajosos. Na nossa sede, temos um painel com uma mensagem: ‘A luta que se perde, é aquela que se abandona’. E é com esse lema que agradeço a presença, sejam bem-vindas, bem-vindos e bem-vindes”, saudou.
JANAÍNA, PRESENTE HOJE E SEMPRE!
A estudante de jornalismo, Janaína Bezerra da Silva, vítima de feminicídio, morta no dia 27/01, durante a calourada na Universidade Federal do Piaiu (UFPI), foi homenageada durante a abertura do 41º Congresso do ANDES-SN. A presidenta da Andes SN, Rivânia Moura, registrou a profunda indignação pelo brutal assassinato da estudante, manifestando solidariedade aos familiares de Janaina, aos amigos e amigas, às docentes e aos docentes da Universidade Federal do Piauí.
“Não é possível avançar nas lutas de classe sem reconhecer que são as mulheres as principais vitimas de assédio moral, sexual, de violência domestica e feminicidio. Janaina foi mais uma vitima! Vamos seguir em luta, contra o feminicídio que nos mata todos os dias. A morte de Janaina leva uma parte de nos, temos a obrigação de seguir em luta. Em nome de Janaina e de todas as mulheres vitimas de feminicídio nos dizemos nesse momento: parem de nos matar! Janaina, presente, hoje e sempre!”, disse Rivânia sob aplausos dos participantes do evento.
DELEGAÇÃO DA ADUNICAMP
A ADunicamp está participando ativamente das atividades do 41º Congresso do ANDES-SN e sua delegação é composta por: Diama Vale (FCM), Wagner Romão (IFCH), Edson Joaquim dos Santos (Cotuca), Silvia Gatti (IB), Regina Célia da Silva (CEL) e Maria José Mesquita (IG), todas(os) eleitas(os) em Assembleia Geral, realizada no dia 15 de dezembro de 2022.
NOSSA COBERTURA
– 41º Congresso aprova plano de lutas para docentes das Instituições Federais de Ensino
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GALERIA
Fotos: Fernando Piva/ADunicamp
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