Na terra de Chico Mendes e no ano que marca os 35 anos de seu assassinato, a presidenta do Sindicato Nacional, professora Rivânia Moura, fez uma homenagem especial a ele – que foi uma das maiores lideranças da história brasileira em defesa da floresta Amazônica e das causas populares – ao citá-lo na abertura do 41º Congresso do ANDES-SN, realizada neste dia 06 de fevereiro de 2023. “No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a floresta Amazônica agora percebo que estou lutando pela humanidade”, disse a professora, citando o líder seringueiro.
Na sequência, a professora Rivânia ressaltou a importância da realização do Congresso na cidade de Rio Branco. “Estamos nas terras de Chico Mendes no Acre, na Amazônia acreana, nesse lugar de conflitos e desigualdades, mas também marcado por muita luta e resistência. Queremos dizer da importância deste Congresso aqui no Acre, no contexto de aprofundamento de ataques ao meio ambiente, ás florestas, à Amazônia e em especial aos povos originários”, afirmou.
Homenagem que tem um significado especial diante da devastação da floresta e do ataque aos seus povos originários, perpetrados durante o finado governo de Jair Bolsonaro, mas que ainda permanecem devido ao poder indiscriminado e fora da lei que foi concedido aos latifundiários, garimpeiros e madeireiros que ali atuam.
E, mais do que uma homenagem, o 41° Congresso parte das lutas em defesa da floresta travadas pelos seus povos e propõe a instituição do dia 22 de dezembro, dia da morte de Chico Mendes, como o Dia Nacional de Defesa da Amazônia e de Luta Socioambiental nas Universidades. E também que o ANDES-SN passe a apoiar oficialmente a luta das comunidades extrativistas e as lutas pela instituição de novas reservas extrativistas no país.
O recrudescimento da atuação do ANDES-SN nas causas socioambientais é fortemente amparado pelas 14 Resoluções sobre Política Agrária, Urbana e Ambiental deliberadas no 65° Conad, ocorrido em maio de 2022. As 14 Resoluções serão apresentadas e debatidas no 41° Congresso, instância final a quem cabe referendá-las.
A primeira Resolução defende que as Seções Sindicais, apoiadas pelas Secretarias Regionais, “impulsionem ações de enfrentamento e denúncia da destruição do meio ambiente” tanto no âmbito das políticas federais como no das estaduais e municipais. Diversas outras resoluções do 65° Conad também são incisivas sobre o fortalecimento do foco do ANDES-SN nas ações e causas socioambientais. (leia em: www.andes.org.br)
UM MARCO NA HISTÓRIA
A consciência de Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, foi forjada e se fortaleceu na luta em defesa da floresta, como ele próprio relataria (e citado pela presidenta do ANDES-SN), anos antes de sua morte, ocorrida em 1988. “No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade”, disse ele.
Chico Mendes nasceu na cidade acreana de Xapuri em 15 de dezembro de 1944. E os seringais ele conheceu desde cedo. Ainda criança e durante toda a adolescência acompanhava os pais, migrantes cearenses fugidos das secas do sertão nordestino, no trabalho diário dentro da floresta.
Como por ali não havia escolas, ele só aprenderia a ler aos 19 anos de idade. Aquele era o início de tempos árduos e avassaladores para a floresta. Começava, em 1964, a ditadura militar que, ao longo dos anos seguintes, abriria as porteiras da floresta com a proposta de ocupação de terras na região Norte e a construção de grandes obras de infraestrutura.
A ditadura deu início a uma farta distribuição de títulos a grandes latifundiários. A mata era derrubada para a extração de madeiras nobres que seriam exportadas e as terras transformadas em pastagens para o gado ou para a agricultura.
Começava um processo de devastação nunca antes visto na floresta, com o acirramento dos conflitos entre os novos proprietários de terras e os povos originários e os seringueiros. É nesse contexto que, em 1970, ano do início da construção da rodovia Transamazônica, Chico Mendes ingressa no sindicato de trabalhadores da cidade acreana de Brasileia.
O sindicato já travava lutas contra o desmatamento que ameaçava a sobrevivência dos seringais e de outras atividades extrativistas. Chico Mendes se engajou totalmente nessas lutas, passou a denunciar os incêndios criminosos, a ocupação ilegal das terras e o desmatamento.
A partir daí, a consciência política e social de Chico Mendes avançou rapidamente. Dois anos depois, ele funda o sindicato dos trabalhadores rurais em sua cidade natal é eleito vereador pelo MDB. Logo se tornaria uma das principais lideranças dos movimentos de resistência e defesa da floresta. Sua voz e suas lutas passaram a repercutir por todo o Brasil e no exterior, atraindo a ira crescente dos latifundiários. Ele chegou a ser preso e torturado pela ditadura, acusado de subversão.
Com o fim do bipartidarismo, em 1979, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores, ao lado de outras lideranças que também cresciam no cenário nacional, como a do atual presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Mas os ataques à floresta e aos seus povos continuavam. Em 1987, uma série de planos de ocupação, financiados por bancos estrangeiros e gestados ainda nos tempos da ditadura, recrudesceu na Amazônia. Chico Mendes se opôs duramente a eles, chegou a ir ao Banco Interamericano de Desenvolvimento para pedir o fim dos empréstimos, sob a justa alegação de que os projetos colocavam em risco os povos originários da floresta e os extrativistas.
Chico Mendes já era uma personalidade mundial, um símbolo da luta dos povos em defesa da floresta e, por isso, em 1987 foi o primeiro brasileiro a receber o Prêmio Global 500, concedido pela ONU (Organização das Nações Unidas) em reconhecimento às pessoas e entidades que lutam pelo meio-ambiente.
Ainda em vida, Chico Mendes denunciou as repetidas ameaças de morte de que era alvo, mas só passou a receber proteção às vésperas de sua morte. As ameaças já eram declaradas e públicas, Chico Mendes estava jurado de morte naqueles anos finais da década de 1980. A situação tornara-se insustentável, com repercussões em escala mundial, e o governo do Acre acabou por escalar uma equipe de policiais para fazer sua escolta.
Até que em 22 de dezembro de 1988, enquanto a escolta se encontrava na frente de sua casa e na cozinha, Chico Mendes foi assassinado com tiros de escopeta calibre 12 no peito, no momento em que saía pela porta dos fundos de para tomar banho no banheiro do quintal.
O autor do disparo, Darcy Alves, cumpria ordens de seu pai, Darly Alves, conhecido grileiro na região e que se dizia dono de uma área da floresta defendida por seringueiros que chegaram a ocupá-la sob a liderança de Chico Mendes. Xapuri, naqueles tempos, era uma terra-sem-lei e a família de Darly era uma das poucas que dominava a região, com títulos de terras que nunca se sabia se verdadeiros ou falsos e muitas armas nas mãos.
Os dois foram presos, condenados a 19 anos de prisão, mas conseguiram fugir em 1993. Recapturados três anos depois cumpriram pena em regime semiaberto e ganharam a liberdade.
O LEGADO
A morte de Chico Mendes gerou grandes manifestações no Brasil e no exterior e chamou atenção para o descontrole fundiário na Amazônia. A causa dos seringueiros, dos extrativistas e dos povos originários ganhou apoio mundial.
Assim, já nos dias finais de seu governo, em 12 de março de 1990, a três dias de passar a faixa para o seu sucessor, o presidente José Sarney assinou o decreto que criou a Reserva Extrativista Chico Mendes, em uma área de pouco mais de 970 mil hectares no Acre.
A partir daí, foram criadas outras 20 reservas extrativistas no território nacional, abrangendo uma área total de 32 mil quilômetros quadrados e seguindo as propostas defendidas por Chico Mendes ao longo de suas lutas.
A história do líder foi resgatada e se mantém viva no Instituto Chico Mendes; e a pequena casa de madeira onde ele morava foi transformada no Museu Chico Mendes. Sua memória é preservada em centenas de ruas, parques e reservas que levam o seu nome por cidades de todo o Brasil.
41º CONGRESSO
O 41º Congresso do ANDES-SN começou na segunda-feira (6), em Rio Branco (AC), com o tema central “Em defesa da educação pública e pela garantia de todos os direitos da classe trabalhadora”. Até sexta-feira (10), as e os mais de 600 docentes participantes irão debater e deliberar sobre as ações e pautas que orientarão as lutas da categoria docente durante o ano de 2023.
O evento ocorre na Universidade Federal do Acre (Ufac), sob a organização da Adufac – Seção Sindical. Pela primeira vez, o congresso do Sindicato Nacional acontece na capital acreana.
NOSSA COBERTURA
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