Ataque criminoso contra assentamento em Tremembé exige investigação profunda e punição efetiva


A ADunicamp, que mantém uma forte relação e apoio às populações dos assentamentos na região de Campinas, se une às vozes que exigem uma apuração profunda e a consequente punição dos autores e mandantes dos crimes cometidos, em 10 de janeiro, contra famílias do assentamento Olga Benário, em Tremembé/SP.

O assassinato três integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o ferimento de outras seis pessoas em ataque de pistoleiros contra integrantes das 45 famílias que vivem no Olga Benário é mais um episódio gravíssimo das atrocidades que se perpetuam pelo país envolvendo a questão fundiária e a luta histórica pela posse da terra.

Dados parciais divulgados pela CTP (Comissão Pastoral da Terra) apontam que entre janeiro e junho de 2024 ocorreram 1.056 episódios de conflitos no campo. Em 2023 foram 2.203 ocorrências, com 30 camponeses(as), quilombolas ou indígenas assassinados e outras 218 pessoas ameaçadas de morte. Os números completos de 2024 serão divulgados pela Pastoral no Caderno Conflitos no Campo 2024, com lançamento previsto para abril de 2025. O Caderno, que chega à sua 39° edição, é um dos mais importantes registros da violência e da resistência no campo brasileiro.

Quando se olha os últimos dez anos, há uma crescente que se mantém. Houve uma diminuição muito leve de casos em 2024, mas, ao mesmo tempo, ainda existe um índice muito alto de violência contra pessoas e um crescimento de outras formas de violência”, avalia Cecília Gomes, da Coordenação Nacional da Pastoral da Terra.

O episódio em Tremembé é semelhante à grande maioria dos conflitos que vêm sendo registrados no país. Em cinco carros e duas motocicletas, dez homens armados invadiram uma área coletiva do assentamento e abriram fogo contra as pessoas que se encontravam no local, entre elas muitas crianças e idosos. Os integrantes do MST Valdir do Nascimento, conhecido como Valdirzão, de 52 anos, e Gleison Barbosa de Carvalho, de 28 anos, morreram no local. O irmão de Gleison, Denis Barbosa de Carvalho, de 29 anos, foi baleado na cabeça, hospitalizado, mas não resistiu aos ferimentos e também morreu. Um dos homens acusados de comandar o grupo de atacantes foi preso e confessou sua participação no crime. Outro, já identificado, está com a prisão decretada, mas até o momento de conclusão deste texto ainda não havia sido localizado.

Em entrevistas, o delegado Marcos Ricardo Parra, da Delegacia Seccional de Taubaté, que conduz as investigações, afirmou que os ataques teriam ocorrido por disputas pela ocupação de lotes do assentamento. As pessoas baleadas estavam no local para defender um lote que havia sido invadido e fora recuperado pela comunidade do assentamento.

PRESSÃO IMOBILIÁRIA

Mas o episódio tem todos os indícios de estar longe de ser uma questão interna. Conflitos pela terra se multiplicaram em Tremembé e em diversos outros assentamentos da Reforma Agrária naquela região. Localizados em áreas estratégicas do Vale do Paraíba, com alta valorização nas últimas décadas, os assentamentos têm sido alvo de intensas disputas com agentes imobiliários.

Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, tem reafirmado em entrevistas concedidas em nome do movimento que o pano de fundo dos ataques é a pressão exercida sobre os assentamentos pela especulação imobiliária, que busca construir ali empreendimentos de lazer. E rechaça a tese de conflitos internos no episódio.

Essa é uma região de muitos assentamentos próximos a zonas urbanas e, portanto, motivo da sanha do capital imobiliário local. Primeiro, invadindo áreas de reservas florestais e, depois, invadindo lotes dentro dos assentamentos com o objetivo de transformar esses em áreas de condomínios. (…) É um conluio com parte de políticos regionais e, obviamente, com a utilização de forças das milícias para fazer a execução e o massacre que fizeram no assentamento. As famílias estavam lá para impedir a entrada dessa milícia, mas foram abordados com um arsenal armamentista muito grande e, por sorte, não morreu mais gente”, descreveu o dirigente em vídeo divulgado nas redes sociais.

INVESTIGAÇÕES

Diante das denúncias, dirigentes sindicais e de entidades sociais e políticas já se manifestaram com pedidos de que seja realizada uma investigação rigorosa do episódio, identificando e punindo o grupo de agressores e também os mandantes do ataque. O caso já saiu da esfera local e estadual. O presidente Lula anunciou medidas imediatas, logo após o crime, e determinou que a Polícia Federal acompanhe o caso, uma vez que ocorreu dentro de um assentamento que abriga 45 famílias e já está legalizado pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), desde 2025. Falando em nome do governo, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, classificou o crime como “bárbaro” e sugeriu que o ataque foi uma tentativa de ocupação de lotes pelo crime organizado.

O MST acusa ainda, como causa da violência, a falta de políticas públicas efetivas por parte do governo paulista, o que deixa os territórios de Reforma Agrária vulneráveis e as famílias assentadas desprotegidas, “reforçando um cenário de insegurança e violência”. “É essencial que, agora, o Incra e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar resolvam definitivamente esse problema das invasões de lotes da Reforma Agrária aqui no Vale do Paraíba e em todo o Brasil”, afirmou Gilmar Mauro. 

A ADUNICAMP REAFIRMA A IMPORTÂNCIA DE UMA INVESTIGAÇÃO APROFUNDADA E DA CONDENAÇÃO, NO RIGOR DA LEI, DOS CRIMINOSOS E DE SEUS MANDANTES, COMO CAMINHO INDISPENSÁVEL PARA INIBIR QUE CRIMES SEMELHANTES DE REPRODUZAM NO PAÍS.

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A Diretoria | Gestão 2024-2026
Campinas. 13 de janeiro de 2025


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