As escolas públicas do ensino médio paulista sofreram uma redução de 35% na carga horária das disciplinas de ciências humanas, ao longo dos últimos cinco anos. As mais afetadas foram as de sociologia e filosofia, seguidas pela de geografia, que sofreu um corte de 25,9%. História foi a única disciplina que teve um acréscimo, 11,1% – e pode ser que existam motivos bem ‘paralelos’ para isso (leia abaixo).
A ‘Reforma do Ensino Médio’, proposta pelo governo do presidente Temer e aprovada em 2017 já previa esses cortes. Mas ela foi sancionada só agora pelo presidente Lula com várias mudanças e também com o restabelecimento da carga horária de 2.400 horas. Mas mesmo assim o governador paulista Tarcísio de Freitas decidiu reduzir ainda mais o tempo voltado para as disciplinas de humanas.
O governo paulista justificou o corte afirmando que o currículo valoriza as disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa. Mas os dados indicam que as duas áreas também sofreram redução. Na comparação com o currículo anterior, matemática perde 11,1% e linguagens 5,7%, em 2025.
Os dados acima foram apurados e divulgados pelo jornal Folha de São Paulo, a partir de informações da Rede Escola Pública e Universidade com base em números da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.
Em maio do ano passado, o jornal O Globo publicou reportagem que repercutiu amplamente denunciando que conteúdo pedagógico produzido em slides pela Secretaria de Educação de São Paulo e distribuído para as escolas paulistas era baseado em material do site conservador Brasil Paralelo. Instrumento negacionista e propagador de conteúdos que seguem alimentando a criação de fake news, o Brasil Paralelo é defendido e divulgado por figuras de prestígio da extrema-direita e do bolsonarismo. Não à toa, o jornal Estado de São Paulo chamou o canal de Netflix do Bolsonaro, em reportagem publicada em 2021.
Também em 2021, o escritor e jornalista Rui Martins denunciou tentativas do Brasil Paralelo de levar seus conteúdos para as escolas de base paulistas. E alertava que um dos principais focos de seus filmes e documentários era uma suposta ‘revisão’ da História ensinada hoje.
Uma revisão que se propõe, na avalição do jornalista, “a recontar a nossa História, falseando seu desenrolar, seguindo um script de diretor de filmes comprometido com a direita, ou extrema-direita, do filósofo do governo federal (de Bolsonaro), Olavo de Carvalho”.
Assim, talvez não por acaso a única disciplina de ciências humanas valorizada no novo currículo escolar do governo Tarcísio seja exatamente a de História.
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