Mais de 20 dúvidas, sugestões, propostas e questionamentos foram apresentados por entidades e moradores de Barão Geraldo, nesta quarta-feira, 26 de abril, durante o primeiro evento da série de Encontros Sobre o PIDS, promovido pela ADunicamp para discutir o projeto que, como disse um dos apresentadores “vai mudar a cara de Barão Geraldo”.
A ADunicamp agendou três encontros, abertos a toda a comunidade, para discutir o projeto. Esse primeiro foi uma roda de conversa, precedida pelas falas dos professores Wagner Romão (IFCH), Ari Fernandes (Arquitetura e Urbanismo-PUCC) e do geógrafo Rogério Bezerra, presidente da seção Campinas da AGB (Associação dos Geógrafos Brasileiros).
Participaram da roda de conversa, expondo dúvidas e apresentando sugestões, mais de 30 representantes de entidades da sociedade civil, docentes e moradores. As sugestões e dúvidas apresentadas serão sistematizadas e integrarão um documento que será a base para o próximo Encontro.
Na segunda reunião da série Encontros Sobre o PIDS, prevista para acontecer ainda em maio, serão convidados representantes dos principais atores institucionais envolvidos no projeto, como a Prefeitura de Campinas, a Reitoria da Unicamp e o Governo do Estado, para responder aos questionamentos apresentados no documento.
A presidenta da ADunicamp, professora Sílvia Gatti (IB), informou que esses Encontros também servirão de base para que a Diretoria da entidade defina a posição que pretende tomar frente ao PIDS. “O papel da ADunicamp neste momento é o de ser um espaço de debate, focado não apenas na comunidade acadêmica, mas em todo o Distrito de Barão Geraldo. Um lugar de diálogo, de discussão e construção de propostas. E também de divulgação. Não buscamos protagonismo nenhum nesse processo, mas sim parcerias com a comunidade e com as entidades envolvidas”, afirmou.
Para a professora, é fundamental que os Encontros tragam visões e posicionamentos diferentes sobre a proposta. “Esse é o caminho para chegarmos a uma compreensão real do que significa não só para a comunidade da Unicamp, de Barão Geraldo, mas de toda a cidade.”
Durante o Encontro foi feito também o lançamento da terceira edição do jornal EXPRESSO, realizado a partir de uma parceria entre e ADunicamp e o MCTP (Movimento pela Ciência e Tecnologia Pública), e que trata exclusivamente do PIDS, de suas contradições e das posições colocadas pela comunidade e por estudiosos diante do projeto. A edição impressa do jornal será distribuída em pontos comerciais e de reunião da população nos diferentes bairros de Barão Geraldo. (LEIA AQUI A EDIÇÃO COMPLETA)
TODO O BRASIL
O geógrafo Rogério, que atuou como mediador na Mesa do Encontro, afirmou que a discussão do PIDS interessa não só Barão Geraldo e Campinas, mas de um modo geral a cidades de todo o Brasil. Afinal, o modelo de urbanização e ocupação de território proposto pelo PIDS faz parte de estratégias semelhantes que se busca implantar em centros médios e grandes de todo o país.
“O PIDS, com a proposta de intervenção em uma área de mais de 17 milhões de metros quadrados, é de longe o maior projeto de intervenção urbanística hoje na América Latina. Dos que eu conheço, nenhum chega sequer a uma pequena parte dessa dimensão”, relatou Rogério.
O professor Wagner Romão, que compareceu ao Encontro como representante da Comissão de Acompanhamento formada pela comunidade de Barão Geraldo para acompanhar o projeto, lembrou que, da forma como foi apresentado pela prefeitura, ele é apenas uma proposta de mudança no uso e ocupação do solo do Distrito. Sem nenhuma atenção real com os grandes impactos urbanísticos e sociais que irá causar.
“Mais do que isso, pretendia excluir totalmente a população das discussões sobre o projeto”, denunciou. Romão lembrou que, não fosse a mobilização da comunidade, a participação da população se resumiria a uma audiência pública a ser realizada em dezembro do ano passado, apenas um mês depois que o projeto foi oficialmente apresentado. A audiência seria realizada distante do Distrito, no Salão Vermelho da Prefeitura, no meio da tarde, o que impediria a participação de muita gente.
Romão historiou toda a mobilização que se seguiu, envolvendo várias entidades e lideranças de Barão Geraldo e que chegou ao Ministério Público, obrigando a prefeitura a mudar a programação inicial e realizar oficinas em todas as regiões do Distrito. Várias já ocorreram e outras seis ainda vão acontecer ao longo do mês de maio.
Essas oficinas e as reuniões que se seguirão ao longo dos meses seguintes, servirão de base para uma contraproposta da comunidade ao projeto. Ela deverá ser apresentada em audiência pública que ocorrerá em setembro. “O PIDS propõe mudanças estruturais muito grandes. Se implantado, vai mudar completamente a cara de Barão Geraldo. Não deve e não pode ser conduzido sem a participação forte da sociedade, como determina o próprio Estatuto da Cidade, que quase nunca é respeitado”, avaliou Romão.
IRREGULARIDADES
O professor Ari, que participou da reunião como representante do SASP (Sindicato de Arquitetos e Urbanistas do Estado de São Paulo), afirmou que embora o sindicato não tenha ainda uma posição definida sobre o PIDS, “tem posturas bem claras sobre o que sempre defendeu para Barão Geraldo”.
A primeira questão colocada por ele foi sobre o modelo de evolução urbana das últimas décadas em Campinas. “A cidade evoluiu para um padrão de crescimento da riqueza, mas deixou de lado a distribuição de renda. E isso não é só econômico, mas temos uma distribuição territorial bastante disforme. Bolsões de alta renda e amplas áreas da população de baixa renda em situações irregulares. Na classe média muita gente também em situações irregulares. A cidade parece ter se assentado há 50 anos em situações irregulares e essas situações se reiteram e crescem”, apontou.
Embora loteamentos clandestinos e favelas cresçam, como alternativa a moradores de baixa renda totalmente excluídos de qualquer planejamento sustentado, surpreendentemente as ocupações ilegais que mais têm crescido também é a de loteamentos de luxo em áreas de preservação.
A surpresa começou a ser desvendada durante a elaboração do Plano Diretor de 2006. “O território onde mais apareceram áreas ocupadas irregularmente, entre 1996 e 2006, foi a macrozona de Sousas e Joaquim Egídio. Verdadeiras mansões escondidas debaixo de árvores e fazendas transformadas em condomínios de luxo. A partir disso começaram os alertas, mas o estrago já estava instalado”, relatou.
Ari relatou também as grandes irregularidades que ocorreram durante o processo de instalação das Ciatecs 1 e 2 em Barão Geraldo e que, segundo ele, foram abertos inicialmente como um grande espaço para o avanço do capital imobiliário e empresarial. O mesmo, e de forma ainda mais contundente, aconteceu na região dos DICs. Em nenhum dos dois casos a proposta de atrair empresas e indústrias vingou, descaracterizando completamente as propostas iniciais do projeto.
O PIDS também aponta para o mesmo caminho, na avaliação de Ari. “Então, nada disso pode ser perdido de vista agora. No caso do PIDS, explorar um projeto sério, que é o aproveitamento de um espaço sério que a Unicamp sempre quis tocar, e deixar colocar a colher do mercado imobiliário no meio. Isso o sindicato já está definido que vai lutar contra”, garantiu.
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