As mais de 500 mil mortes pela Covid-19 que acabam de ser registradas no Brasil vão além de uma marca tragicamente simbólica. Os números revelam, acima de tudo, os profundos equívocos na condução da política sanitária de enfrentamento à pandemia no país.
Com apenas 2,7% da população mundial, o Brasil responde hoje por cerca de 30% das mortes registradas no mundo a cada semana e estamos atrás apenas dos EUA no número total de óbitos. Mas, nos EUA, com a vacinação em massa e a adoção de medidas sanitárias rigorosas a partir de janeiro, os números despencam a cada semana. E aqui continuam em alta alarmante.
O Brasil é hoje o 10° país em mortes por milhão de habitantes e essa colocação expõe ainda mais a face da nossa tragédia. Excluindo o Peru, que tem uma população de 33 milhões de habitantes, os demais que estão à nossa frente são países com populações minúsculas e muito mais idosas do que a nossa, como Bulgária (6,8 milhões de habitantes) ou Montenegro (628 mil).
O Brasil tem um dos melhores sistemas de saúde pública e vacinação do mundo. Mas deixou de tomar decisões estratégicas que poderiam ter nos colocado na vanguarda mundial do combate à pandemia. Mais do que isso, com o apoio expresso de algumas das principais autoridades da República, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, parte do país caminhou na contramão de todos os alertas da ciência, investindo em medicamentos comprovadamente ineficazes, descuidando da compra de vacinas e da adoção de medidas sanitárias corretas.
Uma morte, por si, é um triste evento. Quando essa morte é decorrente da falta de assistência, de prevenção e irresponsabilidade, suscita, além da tristeza, revolta e indignação.
Como aceitar essas 500 mil mortes, quando sabemos que grande parte delas poderia ter sido evitada, com a adoção de medidas sanitárias e as providências adequadas e urgentes na aquisição de vacinas? A falta de um auxílio emergencial decente também impede que as populações pobres e desempregadas possam manter o necessário, sempre que possível, distanciamento social.
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