Ampliar as mobilizações, inclusive com paralisações e greve, e ainda reforçar a participação de docentes nas ações, são indispensáveis para pressionar o Cruesp a retomar as negociações da Data-base 2021. Além disso, será encaminhada ao Fórum das Seis a proposta de divulgação ampla de carta aberta destinada ao conjunto da sociedade, em defesa da educação e das universidades públicas e contra a desvalorização da profissão docente, que ocorre hoje em todos os níveis.
A ADunicamp também deverá desenvolver ações de proteção à saúde mental de docentes, agravada na pandemia, contra o assédio e pela construção de um plano detalhado de retorno às aulas presenciais.
Essas foram algumas das propostas apresentadas na reunião realizada pela ADunicamp com docentes de várias Unidades da Universidade, nesta quarta-feira, 4 de maio. “O objetivo da reunião, que deverá se repetir na primeira semana de todos os próximos meses, é ouvir demandas e expectativas de docentes sobre ações que a ADunicamp possa realizar”, afirmou a presidente da entidade, professora Silvia Gatti.
A professora lembrou que a reunião será sempre aberta a todos/as docentes, mesmo que não estejam associados à entidade. “O objetivo é que as demandas de docentes cheguem diretamente até a nossa diretoria. Para que possamos encaminhar, discutir, orientar”, disse.
Sílvia fez um relato sobre a grande quantidade de demandas, internas e externas, que a ADunicamp recebe diariamente, vindas não só de docentes, mas também de entidades da sociedade civil, externas à Universidade. Muitas dessas demandas são atendidas, outras não e algumas geram dúvidas entre membros da diretoria sobre sua eventual aprovação. “Nestas nossas reuniões também será importante ouvir opinião de docentes sobre essas demandas”, sugeriu.
SAÚDE
Na primeira parte da reunião, foi apontada a necessidade da construção de mecanismos de proteção e apoio à saúde física e mental de docentes. No contexto da pandemia, o quadro tem sido agravado, inclusive com o aumento de casos de assédio.
A professora Silvia Gatti afirmou que a ADunicamp está trabalhando, em buscas de alternativas e sugestões para tratar dessas questões. “No caso do assédio, que tem aumentado bastante, já existe um trabalho da Reitoria, mas consideramos que ele é muito tímido”.
Docentes também defenderam a participação da ADunicamp em instituições externas à Universidade, como o Conselho Municipal de Saúde, para fortalecer o SUS e o conjunto da saúde pública, bastante deteriorada em Campinas.
O professor Gustavo Tenório (FCM), 2° vice-presidente da ADunicamp, lembrou que ele, a professora Diama Bhadra do Vale (FCM), também diretora da entidade, e a Professora Helenice Nakamura (FCM) integram o Conselho Municipal de Saúde e têm tido uma atuação ativa, sempre próxima das demandas dos usuários.
O Conselho é formado por 50% de representantes dos usuários e 50% do poder público. “É o espaço onde a população coloca os problemas. E é também um espaço de fiscalização do poder público. E a atual gestão tem mostrado, desde o começo, a dificuldade de condução no enfrentamento da pandemia, só decidiu pelo lockdown quando a Covid-19 chegou com força na classe média. E não mostra nenhuma ação efetiva para amparar as pessoas, as populações mais afetadas. Nós temos agido sempre na defesa da melhor qualidade possível de atendimento aos usuários e no sentido de auxiliar eles a cobrarem aquilo a que têm direito”, relatou Gustavo.
REMOTO E RETORNO
A questão do ensino remoto e da falta de um projeto claro de retorno às aulas presenciais por parte da Reitoria foi levantada por docentes que participaram da reunião.
O ex-presidente da ADunicamp, professor Wagner Romão (IFCH), avaliou que parece ocorrer, não só na Unicamp mas também nas outras universidades paulistas, uma certa “naturalização” do ensino remoto. No Brasil já existe um movimento antigo nessa direção, inclusive com propostas de transição das universidades para o ensino remoto.
Para ele, essa é uma questão que tem que ser amplamente debatida com a comunidade, pois a pandemia abriu possibilidades de aproveitamento de mídias remotas para auxiliar o ensino e mesmo para conferências com público bem mais amplo. “Mas temos que manter sempre a posição da nossa presença na sala de aula. Temos que reforçar isso”, ponderou.
O professor Mohamed Habib (IB), 1° secretário da ADunicamp, afirmou que a entidade tem que estar aberta ao debate, mas como sindicato sua principal missão é defender o docente, os direitos do/a trabalhador/a.
Segundo ele, as realidades são bem diferentes de alguns cursos para outros e docentes têm que ser ouvidos, detalhadamente, para que se possa mensurar a real possibilidade de cursos híbridos, presenciais e remotos, mas sem abrir mão em nenhuma hipótese da presença de docentes e estudantes na sala de aula. “O contato presencial tem uma importância, até de afetividade, não somos máquinas”, ponderou.
Para o professor Mohamed, o retorno às aulas presenciais tem que ser definido com muito rigor. “Há risco, há medo. A própria Universidade tem que determinar, e com bastante segurança, o método que vai ser empregado para proteger docentes, estudantes e o pessoal que trabalha. A instituição tem que apresentar essa proposta à comunidade universitária”.
Na opinião do professor, a ADunicamp deve cobrar da Reitoria a formação de um grupo de trabalho, com representantes de todas as unidades, para construir o plano, “antes de falar em retorno”.
A professora Silvia Gatti informou que a ADunicamp já começa a preparar um questionário, como o que foi feito em maio de 2020, no início da pandemia, para ouvir toda a comunidade docente. A proposta é que ele seja distribuído já em setembro. “Com certeza, vai trazer informações muito importantes, uma vez que já temos três semestres de experiência com o ensino remoto e a pandemia”,
A professora defendeu também a realização de amplos debates nas unidades, para que a questão do ensino remoto e do retorno “não seja decidida por poucos”.
DATA-BASE 2021: maior participação de docentes será decisiva para garantir avanços
A professora Silvia Gatti fez um breve relato das negociações entre Fórum das Seis e Cruesp sobre a Data-base/2021, que culminaram com a que ela chamou de “reunião histórica”, ocorrida em 15 de julho. A reunião, transmitida ao vivo, foi acompanhada por mais de mil pessoas.
“A sensação que tive ao acompanhar a reunião foi que houve um desrespeito. Uma sensação de indignação com a postura dos reitores. Eles ficaram exclusivamente nas supostas limitações da PEC 173. Não fizeram nenhuma proposição, nada sobre valorização dos níveis iniciais de carreira e desprezaram a questão do plano de retorno presencial, dizendo que cada universidade tem que ter o seu plano”, avaliou.
O Fórum das Seis apresentou três reivindicações na negociação: reposição das perdas salariais, valorização das carreiras iniciais e um plano de retorno às aulas presenciais construído conjuntamente para as três universidades. Nenhum foi atendido pelo Cruesp.
O vice-presidente da ADunicamp e coordenador do Fórum das Seis, Paulo César Centoducatte (IC), que há muito tempo acompanha as mesas de negociação das Data-base, afirmou que a cada ano a situação tem ficado mais difícil, com a acumulação de perdas e a maior intransigência dos reitores.
“Mas também houve um esvaziamento da mobilização de professores e técnico-administrativos. O Cruesp tem ficado cada vez mais intransigente, mas se tivéssemos um movimento forte, certamente os reitores não teriam essa posição”, avaliou. Ele historiou vários momentos, em anos passados, em que os reitores modificaram radicalmente suas propostas, após mobilização ou greve nas entidades.
Centoducatte convidou os/as docentes presentes a se mobilizarem em suas unidades e ampliarem ao máximo possível as discussões sobre as propostas de paralisação e ações, indicadas pelo Fórum das Seis, para este mês de agosto.
Por sugestão de participante da reunião, a ADunicamp levará ao Fórum, em reunião marcada para o próximo dia 11, a proposta de realizar a paralisação nas universidades em 18 de agosto, quando ocorre a greve nacional de servidores públicos contra a PEC 32 (Reforma administrativa).
CARTA ABERTA
O professor Mohamed Habib sugeriu que a ADunicamp também leve ao Fórum das Seis a proposta de divulgação de uma carta aberta a toda a sociedade, denunciando o ataque às universidades públicas e a desvalorização do ensino em todos os níveis.
A proposta, aceita pela diretoria da ADunicamp, prevê que a carta aberta contenha também um abaixo-assinado de docentes das três universidades e que seja amplamente divulgada e também levada aos reitores e ao Cruesp. A proposta também será levada à reunião do Fórum das Seis, dia 11.
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