Por CAMILA ARAUJO, do Opera Mundi
Barulho de explosões, ruas destruídas e pessoas feridas. Esse é o cenário que envolve os relatos de quatro mulheres palestinas que têm mostrado o cotidiano de Gaza sitiada por Israel nas redes sociais.
“Não há um lugar seguro, não temos abrigos, e mesmo os hospitais têm seus arredores bombardeados”, diz a jornalista Plestia Alaqad em vídeo.
Hind Khoundary é correspondente da Agência Anadolu. “Eu vejo uma garota… com seu ursinho de pelúcia”, fala, olhando para uma criança deitada em uma maca — se apenas ferida ou se morta, não dá pra saber pelo vídeo — sendo carregada para dentro do hospital Shifa.
Anat Internacional é uma página no Instagram que até 2021 era dedicada à venda de roupas palestinas artesanais e “slow-fashion”. Agora, por meio dela, uma mulher palestina, cujo nome não é identificado, tem publicado boletins diários sobre a guerra.
“Estamos em uma crise humanitária enorme. Israel cortou a eletricidade. Eles cortaram a água completamente e também não estão permitindo entrar qualquer comida em Gaza”, diz a mulher – provavelmente a proprietária da marca de roupas.
O relato continua: “Israel também bombardeou a única passagem entre nós e o mundo lá fora, que é a fronteira de Rafah, entre Gaza e Egito. Agora a fronteira está fechada, Israel não está permitindo entrar qualquer ajuda em Gaza. Nem suprimentos”.
O posto fronteiriço, única saída do enclave palestino que não é controlada por Israel, foi bombardeado pelo estado sionista na terça-feira, 10 de outubro.
A mulher também descreve que os hospitais estão operando para além de suas capacidades e que não há enfermeiras, médicos ou camas suficientes.
Já a cineasta palestina Bisan, na página Wizard Bisan, relata a dificuldade de acessar ajuda, comida e eletricidade, e mostra o momento em que vai beber água “depois de três dias sem acessar água limpa”.
Na segunda-feira, 9 de outubro, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, ordenou “cerco completo” de Gaza, interrompendo o fornecimento de alimentos, eletricidade, combustível ou água ao território. “Nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás. Tudo bloqueado”, disse.
No mesmo dia, o ministro da Infraestrutura, Energia e Água de Israel, Israel Katz, também ordenou o corte do abastecimento de água. Neste mesmo contexto, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou: “Estamos lutando contra animais humanos e agindo de acordo”.
As publicações e os vídeos das mulheres que reportam de Gaza mostram prédios e ruas destruídas, além de pessoas fora de suas casas carregando pertencentes e evacuando prédios, indo de um para outro — e assim sucessivamente, segundo o relato de Plestia.
“Qualquer pessoa vivendo em Gaza pode receber de repente uma ligação dizendo ‘você tem 3 minutos para evacuar’ e as vezes você nem recebe essa ligação…”, escreve a jornalista Plestia, acrescentando: “a questão é: evacuar e ir para onde? E como? Não tem taxistas trabalhando, praticamente não tem uma rua que não esteja destruída…”
Em uma outra publicação, ela mostra coletes e capacetes de imprensa usados por jornalistas palestinos como equipamentos de proteção.
“Esses são equipamentos usados por jornalistas mortos por Israel. Então não importa se você estiver usando-os ou não, você é morto”, disse ela.
Desde o início do conflito, no último sábado (07/10), oito jornalistas palestinos foram mortos, segundo o Sindicato dos Jornalistas Palestinos.
Enquanto a mulher da página Anat Internacional pede para que quem a assiste mantenha Gaza na mente, Plestia diz: “Não sei quando será minha vez, apenas mantenha Gaza em suas orações”.
“Eu odeio quão desamparados nós estamos”, acrescenta a jornalista. E é essa percepção que essas mulheres palestinas têm em comum: a de desamparo, de que nenhum país do mundo está se movimentando para ajudar o povo palestino em Gaza.
Publicado originalmente no Opera Mundi (ver aqui)
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