Por Caio Navarro de Toledo, Docente aposentado do IFCH/Unicamp
Esta breve Nota tem apenas o objetivo de registrar que – diante da descomunal e brutal reação do Estado de Israel ao atentado de 7 de outubro de 2023, perpetrado pelo Hamas – a comunidade universitária da Universidade Estadual de Campinas não permanece indiferente nem calada.
Docentes, estudantes e técnico-administrativos da Unicamp não se omitem diante das cenas de pavor e horror que o mundo inteiro assiste e que, sem nenhum exagero retórico, podem ser classificadas de autêntico genocídio na Faixa de Gaza.
O abaixo-assinado “Pelo cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza! Pelo fim do genocídio do povo palestino!” associa-se, pois, ao conjunto dos documentos e artigos que, no Brasil e em todo o mundo, têm sido elaborados por entidades democráticas e de direitos humanos que afirmam NÃO À BARBÁRIE!
Por meio de uma irrestrita solidariedade ao povo palestino, nosso Manifesto, certamente de forma simbólica, busca estar à altura da justa e sempre urgente interpelação feita – pelo notável escritor humanista, José Saramago – a homens e mulheres de todo o mundo:
“Um dia se fará a história do sofrimento do povo palestino e ela será um monumento à indignidade e covardia dos povos”.
O Manifesto “Pelo cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza! Pelo fim do genocídio do povo palestino!” é reproduzido abaixo e pede seu apoio:
“Nós, membros da comunidade acadêmica da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, vimos a público nos manifestar em defesa da paz e em solidariedade ao povo palestino, neste momento de acirramento de um conflito que perdura há mais de sete décadas.
Logo após a Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas traçou a divisão da Palestina, então território ocupado pelos britânicos, com a criação de dois estados – um árabe e um judeu – em uma região de maioria árabe, mas para a qual migravam continuamente judeus de toda a Europa. A Resolução 181 da Assembleia Geral da ONU, de 29 de novembro de 1947, que estabelecia a partilha, foi aprovada com 33 votos favoráveis (incluindo os votos do Brasil, URSS, França e EUA), 13 votos contrários (em sua maioria dos países árabes da região, como Egito, Líbano, Síria e Iêmen), e 10 abstenções (incluindo a do então mandatário da região, o Reino Unido). Pela Resolução, o Estado judeu corresponderia a cerca de 55% da região, enquanto o Estado palestino teria os outros 45%. Os árabes, contrários naquela ocasião aos dois estados, defendiam a tese de um Estado único, com a concessão de proteção e salvaguardas à minoria judaica.
Desde então, as hostilidades entre árabes e judeus se agudizaram. Logo depois, em 1948, com a retirada da Grã-Bretanha, é declarada a independência do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948. A guerra que se sucedeu a partir daí terminou com a vitória de Israel e com a expulsão de cerca de 700 mil palestinos de suas casas e vilarejos. As guerras entre Israel e os países árabes se sucederam entre os anos 1950 e 1970, com o aprofundamento da presença de Israel nos territórios palestinos.
Já na década de 1990, acordos bilaterais e multilaterais entre as partes culminaram com os Acordos de Oslo (1993-1995), com a criação da Autoridade Nacional Palestina como órgão interino e autônomo de autogoverno na Cisjordânia e em Gaza, e o reconhecimento mútuo entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina.
Israel desrespeitou os Acordos de Oslo e a comunidade internacional ficou calada. Se, em 1993, havia pouco mais de 110 mil colonos judeus vivendo na Cisjordânia, hoje o número é superior a 700 mil. Essas ações têm o apoio dos governos dos Estados Unidos, com o qual Israel estabeleceu um fortíssimo pacto político, militar, econômico e ideológico, tornando-se um enclave estratégico da maior potência militar do mundo em meio aos países árabes.
Nos últimos anos, com o fracasso dos processos de paz, recrudesceu o regime de apartheid contra o povo palestino praticado por Israel, com o aumento da humilhação, da violência e dos assassinatos praticados diariamente pelas forças de ocupação contra a população de Gaza e da Cisjordânia.
É neste contexto que deve ser compreendida a ação do Hamas em 7 de outubro de 2023, com a condenável matança de civis israelenses. A reação absolutamente desproporcional de Israel – com os bombardeios em zonas residenciais e a mortandade de civis palestinos – é apenas um novo capítulo de uma história de ódios e injustiças, na qual o Estado colonial de Israel subjuga um povo que teve sua terra arrancada de seus pés.
A novidade macabra da guerra que presenciamos é o assassinato indiscriminado de milhares e milhares de vidas humanas que anuncia uma “solução final”, ou seja, a eliminação genocida dos palestinos dos territórios pretendidos por Israel. É contra ela que o mundo todo precisa se levantar!
Precisamos nos levantar contra a tragédia humanitária pela qual vem passando o povo palestino em Gaza, com os bombardeios ininterruptos, a privação de água, energia elétrica, hospitais, alimentos, combustível e medicamentos, e a expulsão dos palestinos do que resta de seu território original!
Precisamos nos levantar contra a censura e a violência perpetrada contra os opositores judeus de Benjamin Netanyahu em Israel e no mundo todo, críticos de seus crimes!
Precisamos nos levantar contra a execrável ação dos Estados Unidos, que impede as Nações Unidas de aprovar resoluções do Conselho de Segurança que possam dar fim à guerra!
Por isso, defendemos e instamos a Reitoria da Unicamp e o governo brasileiro que defendam nos fóruns adequados as seguintes posições:
* Cessar fogo imediato na Faixa de Gaza e nas zonas de conflito
* Que Israel imediatamente abra negociação com o Hamas para troca dos reféns israelenses em contrapartida aos palestinos encarcerados em suas prisões;
* Progressiva desocupação dos territórios ocupados por Israel na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental, na Faixa de Gaza e nas colinas de Golã;
*Fim da segregação imposta ao povo palestino no território do Estado de Israel;
* Criação do Estado da Palestina, soberano e independente.”
Os nomes dos primeiros apoiadores e o link para receber seu apoio está aqui: https://forms.gle/RKddBoXv8wwhMpiX8
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Divulgação realizada por solicitação do Professor Caio N. de Toledo (IFCH), na condição de sindicalizado à ADunicamp. As opiniões expressas nos textos assinados são de total responsabilidade do(a)s autore(a)s e não refletem necessariamente a posição oficial da ADunicamp, nem de qualquer uma de suas instâncias (Assembleia Geral, Conselho de Representantes e Diretoria).
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Foto de destaque: Paulo Pinto/Agência Brasil
Itamar Ferreira
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